sábado, 19 de novembro de 2011

Só uma dieta?

Muita gente me criticou no começo, achando que eu estava surtando com essa coisa de ir à nutricionista. E realmente fiquei muito mal com toda essa crítica. Então, resolvi desabafar nesse depoimento longo.

No final de maio desse ano, fui à nutricionista e passei a ela o meu histórico nada favorecedor: ironicamente eu tive problemas de crescimento quando estava com mais ou menos oito anos. Colesterol alto mesmo se eu fosse adulto àquela época. Triglicérides, então! Nem se fala. Lá pela sétima, oitava série, eu usava calça tamanho 52. Mesmo depois de ter conseguido emagrecer bastante sem ter feito grandes esforços, eu ainda não estava satisfeito. De fato, eu fui porque eu queria emagrecer só mais um pouquinho.

Outro fato que eu incluí por acaso no histórico: eu sentia muito sono depois de uma refeição. Sempre achei que aquela preguicinha depois do almoço era normal. Afinal de contas, tem a sesta, né.

Daí ela me explicou em termos leigos o que é resistência à insulina, que me dava essa "preguicinha normal". Principais causas: intervalos muito grandes entre refeições e nutrientes complexos demais pra nosso sistema digestivo. Os principais vilões nessa história: proteína da soja (pois é), glúten, caseína, ou ainda um carboidrato muito simples chamado lactose -- desmamar é justamente parar de produzir lactase, que a "quebra" em glicose e galactose.

Já pararam pra pensar que o homem é o único animal que continua a tomar leite mesmo depois de desmamar? E pior: de outro mamífero? Não é meio nojento se a gente pensar por esse lado?

Cês sempre viram "contém glúten" ou "não contém glúten" nas embalagens e não sabiam do que se tratava, né? É porque tem gente (os celíacos) que, se comer glúten, corre risco de morrer. Vai lá no Wikipedia e pesquisa sobre glúten, pra mais detalhes.

Aliás, só de curiosidade, vai no Google Tradutor e pede pra traduzir "gluten" (sem acento mesmo) do latim pro português. Esse foi o estrago que ele fez em mim.

Não, não é piadinha do Google. E sim, eu espero você se acalmar depois desse susto. Quer um chazinho de camomila, de cidreira?

Daí quando eu falo que estou em restrição de glúten e laticínios, o povo acha que é frescura, que eu não preciso emagrecer mais, que eu deveria tratar da minha anorexia nervosa (!!), que é impossível, que eu deveria desistir, porque tudo tem glúten e leite. Mas se o Djokovic faz uma dieta igualzinha e, depois disso, vira o melhor tenista do mundo, OH ELE É O MÁXIMO. Façavor! Só porque ele é famoso, então ele não pode ser alvo de críticas que nem eu fui?

Não, não tô pedindo elogio nenhum de ninguém, nem tô com inveja dele. Nem tenho coordenação pra jogar tênis! Também não fiz a dieta porque ele fez, nem sabia. Fiquei até feliz por saber disso, aliás. Só faço essa pergunta, indignado, pra que os que (mesmo inconscientemente) me criticaram tão duramente pensem bem se queriam ouvir esse tipo de crítica ou ser desestimulado dessa forma. Só estou buscando um tratamento de saúde, nada mais.

Realmente, pensar que tudo que tenha trigo, aveia, centeio, cevada, malte ou leite esteja banido temporariamente da minha dieta... é muito difícil. Mas é questão de costume, garanto. Dá pra viver sem cerveja, sem chocolate, sem queijo, sem massas e sem laticínios. Tem destilados, tem vinho, tem alfarroba, tem mariola, tem tapioca e tem pão sem farinha de trigo. E principalmente tem fruta, muita fruta. O pior mesmo de se enfrentar é esse... esse... estigma social de ser tachado de neurótico.

Pros engenheiros: já pararam pra pensar na consequência logística pro Brasil que é a gente se entupir de glúten? É bolo, é bolacha, é pão, é tudo. Tudo de farinha de trigo. E o Brasil importa praticamente todo o trigo de que precisa dos hermanos. Enquanto isso, tem arroz (farinha de arroz é um dos substitutos da farinha de trigo) estragando nos silos porque, se não se usarem estoques controladores, o preço despenca. E você aí achando o presidente Vargas um lunático porque queimou toneladas de café, só pra controlar preço. Tsc tsc.

Já vi dados na minha área de pesquisa no mestrado (secagem) que falam que 25% da produção mundial de alimentos é JOGADA FORA! Será que é só porque estraga?

Tem também agricultor familiar parando de plantar mandioca (polvilho é outro substituto) porque soja e cana do latifundiário dá mais dinheiro pro país. Daí o ROCEIRO migra pra cidade e fica desempregado porque não tem qualificação. E apela pra meios ilícitos pra ter o mínimo de dignidade.

Tá bom, viajei. Não quero te deixar com consciência pesada por ter comido uma bolacha. Voltando...

Independentemente da dificuldade enorme (só no começo, ressaltando) que é cortar glúten e laticínios da dieta, nunca me senti tão bem-disposto e nunca mais tive sono depois do almoço, desde que comecei essa restrição. Já fiz exames de sangue e descobri que minhas taxas de glicemia, insulina, triglicérides e colesterol estão todas normais. Saber que estou saudável é de onde sai a minha força de vontade pra manter essa restrição tão complicada.

Só teve uma taxa que deu um pouquinho mais alta que o normal: a do hormônio TSH. Ou seja, acabei descobrindo que tenho hipotireoidismo sub-clínico (Ronaldo!), outra causa dos meus sonos diurnos "normais". Mas estou me medicando, sem neura.

Ter ido à nutricionista não serviu só pra que eu me reeducasse no que diz respeito à alimentação. Serviu pra eu saber que muitas críticas, mesmo que inconscientes, são irrelevantes. Ou seja, serviu pra eu saber separar o joio do... trigo (duh!). Serviu pra que eu soubesse que eu preciso ter muita força e auto-estima pra fazer o que eu acho que seja o melhor pra mim, mesmo que muita gente não concorde.

Ah, só pra constar: estou com 10% de massa gorda, o que é relativamente baixo para não-atletas, e hoje uso calça 40. Mas isso é detalhe.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Eu menti

... mas não porque eu sou mentiroso. Explico.

Sabe qual é a coisa mais apaixonante? É quando a pessoa dá liberdade pra que a gente a descubra, mas a pessoa sempre tem uma surpresa. A gente adora o desafio de desvendar o mistério que é aquela pessoa. Não falo só por mim, que sou homem. Mulher também gosta disso.

Daí todo mundo distorce esse fato. Fala que mulher gosta é de homem cachorrão. Ou que tem que esnobar, sim. Ou, conforme o Gabriel me disse, quanto mais você mostrar que ela pode te perder a cada segundo, mais ela vai querer ficar perto de você. Mulher não pode ter segurança no relacionamento, tem que viver na insegurança.

Um absurdo!

Há um abismo entre ser esnobe e ser misterioso. O esnobe desrespeita, o misterioso é um gentleman. Mas nem por isso é um gentleman óbvio, forçado, friend-zoned. Versão masculina da "boazinha", da qual já vou falar daqui a pouco. Ele faz galanteios naturais, que poderiam ser feitos a favor de qualquer mulher, mesmo sem interesse sexual. Ou mesmo com outro homem.
Vai parecer falta de modéstia da minha parte, mas eu geralmente abro a porta do elevador do meu prédio primeiro, saio e seguro a porta pra todas as pessoas. Senhoras, senhores, moças, casais com filhos, whoever. Só não faço isso com marmanjo. Não porque eu não queira, mas porque infelizmente gera má interpretação. Coisa de brasileiro, fazê o quê.

Enfim, voltando.

O esnobe tem um ego minúsculo, apesar de parecer exatamente o contrário. Pior de tudo é que ele sabe identificar quem tem ego pequeno também, mas que o deixa bem claro: a menininha. A menininha - ou, conforme certa autora (que já citei aqui) já definiu, a boazinha. A boazinha cede demais, a boazinha é... boazinha. Simples assim. Todo mundo conhece no mínimo uma. 
Ressaltando: não é necessário que a boazinha seja aquela timidazinha que não conversa com ninguém, que tem vergonha até de palavrão que falam perto dela. Ih, o que eu conheço de gente que se acha "independente", mas tantas vezes atropela a própria vontade (e é exatamente isso que define a boazinha)!
Tem boazinha que usa Twitter pra contar tudo da vida dela. Se brincar, ela conta até quando vai cagar, porque acha que tem um interessado por perto. E sempre tem um interessado:  o clássico friend-zoned, que a segue. [essa vírgula fez total diferença nessa frase, cuidado ao ler!]
Tem boazinha que usa Truth box no Facebook e fica mostrando quando alguém dá uma cantada nela. E "acha ruim" - e declara publicamente - que ficam mandando. Coitada. Coitado também do cara que mandou a cantada.
Tem a boazinha que é biscate. Tem a boazinha que é santa-do-pau-oco. Tem várias boazinhas, todas agradam mais ao outro do que a ela própria.

Pro esnobe, encontrar uma boazinha é incrível. É a oportunidade perfeita da foda garantida. Coitado, vivendo outra ilusão tão grande quanto seu alter ego, a boazinha. Bem que se merecem mesmo.

Já o misterioso tem amor próprio, tem vida própria. E sabe muito bem que um sábado à noite em casa lendo um livro repetido, escutando umas músicas velhas (mas que ele adora) é tão prazeroso quanto uma balada. Diferente, é claro, mas tão bom quanto. E se por um acaso rolar alguma coisa na balada, ele está lá, sentindo cada centímetro daquela pessoa, tentando descobrir como é a personalidade da pessoa pela terceira nota do perfume dela.
O misterioso beija de olhos fechados, pois assim aguça os sentidos. O esnobe beija de olho aberto pra olhar pros peitos da gostosa que tá passando ali do lado. Completamente sem foco e perdendo a ótima oportunidade que está ali nas mãos dele, literalmente.

O misterioso não "pega". Está com aquela pessoa porque quer. O misterioso sabe que mais do que uma por noite já é exagero, porque sabe que desvendar uma pessoa só já é complicadíssimo. Mas adora desvendar pessoas. Quando estiver, esteja, já diria uma música. O esnobe, rá! O esnobe não perde nenhuma micareta, coitado.

Uma coisa é esnobar. Outra é ser misterioso.


Eu menti. Menti esse tempo todo porque eu desvendei a Diana muito rápido. Ela é boazinha. Acabou a graça. E eu não quero foda garantida, não sou esnobe, oras! Claro que é bom, mas eu não quero.

Eu quero desvendar.

... e como é que se fala tudo isso sem chocar qualquer boazinha? Eu ainda não sei e preciso aprender urgentemente.

E o pior de tudo é que, como toda boazinha, ela vai insistir. Não quero dizer que ela não possa manter contato, o que ela tem feito. Acho válido, a gente se conheceu bem demais. Mas "saudade de sentir seu corpo em cima do meu", ou "o que eu faço pra te esquecer?", ou "sou teimosa e intrusa" e afins? Poxa, você com a oportunidade de conhecer uma cidade maravilhosa que deve ser Madri! E você preocupada com sentir saudades de mim? Pra mim, isso não é teimosia, e sim falta de amor próprio!

Mas vai falar algo que nem chegue nesse ponto, mas que tenha a ver com isso...! Cês bem viram isso esses dias.

Não tem jeito de falar isso. É impossível.

E por isso eu menti.

sábado, 12 de novembro de 2011

Grosso

Nós já terminamos via telefone, mas ela insiste em ficar mandando mensagenzinhas mimimi.

Eu fico sem saber o que responder, e quando eu simplesmente falo "uai, o que eu posso fazer ou falar?", eu sou o grosso.

Grosso é o intestino, que vive dando cagada. Porra, me deixa em paz! Eu queria terminar isso de um jeito pacífico, mas ela é que não está deixando.

E depois é a gente que é insensível, cafajeste. Só estou começando a retribuir.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Revolução

Hoje, vai ser curto.

Fui à unidade na minha universidade que faz os atendimentos de que eu disse há uns tempos. Fiz a triagem.

Hoje, começa uma revolução.

sábado, 15 de outubro de 2011

Easy

Três pessoas com quem conversei falaram pra eu largar se ser mole, capacho, cachorrinho. Eu sei, eu sei! Mas essas coisas, por mais que os outros tentem avisar, não adianta, o cara não vai mudar fácil (né, Gabriel?). E ainda criticamos quem é tratado como um capacho  - e ressalto que estou confessando que fiz isso! Apontando o indicador, a gente precisa lembrar que tem três dedos apontando de volta pra gente.

Coisas da vida.

Por esse motivo é que eu acho que tem umas coisas por que todo homem deveria passar. Não porque eu ache que todo mundo tenha que ser igual, mas algumas experiências ensinam tanto e tão bem que eu não conheço nenhum substituto.
Uma delas é ser um pouquinho de capacho, sim. Pra dar aquela balançada nas prioridades, pra aprender a valorizar o material. Outra coisa importante é passar pela fase puta. Não pelo lado devasso da coisa, mas pra saber se adaptar a diferentes pessoas. Eu disse ADAPTAR e não moldar, ou seja, sem ter recaídas no capachismo, sem mudar a essência. Até ele chegar no ponto em que vai pensar como a vida bandida é, apesar de movimentada, vazia; e se motiva a mais uma chacoalhada. [gostei do "ritmo" dessa última frase!]

E até agora eu vivi tendo muitas facilidades, não só nesse aspecto. Por exemplo, no final do ano passado, eu falei que falei pros meus pais que eu não queria um carro, e eles acharam que eu tava fazendo cu doce. Mas não. Eu sabia que eu não conseguiria me manter aqui em São Carlos só com a bolsa de mestrado e ser uma pessoa motorizada ao mesmo tempo. Consequentemente, eles continuariam a me mandar dinheiro. Se eu não tivesse carro, daria tranquilamente (um pouco apertado, talvez) pra eu me manter aqui, e independência financeira pra mim seria um bom aprendizado.
Aliás, até o fato de eu fazer mestrado foi assim. Tá, eu já estava cogitando a possibilidade, mas era "carta na manga", e não prioridade. Se eu não conseguisse um estágio, eu me matricularia como aluno especial no mestrado. Pronto, fácil, simples; Tudo bem, eu aprendo a gostar da carreira acadêmica, eu me acostumo a ver meus colegas ganhando mais que o triplo do que eu ganho como pesquisador. Sem problemas. Pelo menos eu não fico desempregado.
Outro exemplo: eu vou ter três oportunidades para conseguir uma bolsa de doutorado: (1) via projeto escrito por mim, minha preferência, não só pelo valor maior da bolsa; (2) via projeto do meu orientador, onde não sou avaliado e é praticamente impossível eu não conseguir, visto que meu orientador é autoridade mundial no assunto, e (3) via programa de pós-graduação, em que vou concorrer com outros profissionais com CVs e históricos escolares de graduação e mestrado; e em que eu também tenho boas chances, já que consegui primeiro lugar na classificação de mestrado pelo mesmo método. Ou seja, sem bolsa de doutorado eu não fico.
[só mais uma atualização: acabei de receber um email do meu co-orientador, que resumida, mas não explicitamente diz que eu já vou ter outro aluno de IC pra co-orientar enquanto estiver no doutorado, ou seja, CV potencialmente mais recheado, tendo mais chances de passar em concursos públicos...]
Pra finalizar, a própria separação forçada entre mim e a Di dentro de menos de uma quinzena. Eu não vou precisar ter força pra destrancar a porta, como eu escrevi há uns dias, já que a carreira dela vai fazer com que fiquemos literalmente um oceano de distância. Eu não vou passar pelo capachismo forçado, ficando a lição do mesmo jeito - agradar é uma coisa, ser passivinho é outra. Sem sofrimento.

Resumindo tudo, minha vida foi fácil demais até agora. Eu poderia ter saído o pior dos mimados, grazadeus eu não sou. Mas uma coisa eu peço: deixem que a minha vida dê um pouco errada.

Cansei de jogar no easyEu quero um desafio de verdade.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Touché

Antes que cês me entendam mal, o que a gente está fazendo é vivendo um dia de cada vez, devagar e sempre. Se eu tenho a quase certeza de que isso não vai pra frente, paciência. C'est la vie - bleue e blanche. Não tem como eu saber se a gente não tentar, né? E mesmo que estejamos enganados se isso for amor mesmo, que tem de mais? Vamos nos impedir de descobrir pra quê?

Ontem, eu ganhei um presente de dia das crianças. Um kit de loção pós-barba e espuma para barbear, numa caixinha toda bonitinha.

Fiquei tão... tão, comovido, tão light-hearted que..., porque mesmo dos meus pais, padrinhos, seja-lá-quem-for, isso era raro. Não que eu goste desse mimimi todo, de ganhar presente de dia das crianças - por mais que nossa diferença de idade seja grande, isso não dá motivo de ela ficar falando txi gaxinha. Mas o presente me sensibilizou bastante. Eu é que estava guardando rancor. Ela é que deu o touché.

Mentalmente, pedi desculpas.

Um dia de cada vez. Até o dia de finados, ainda tem muito chão. Ao mesmo tempo, tão pouco...! Somos pacientes terminais, com data certa. Mas há que se acreditar em vida após a morte. Senão a vida perde a graça.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Superego

É óbvio que eu tô me sentindo o pior dos filhos da puta por estar fazendo isso comigo mesmo e com ela. Tem nem que pensar. Se me consola ao saber que na verdade eu estou devolvendo os "insultos" que ela tem feito, em chamando de ingrato, egoísta? Não, é obvio que não me consola.
Vai parecer uma analogia sem pé nem cabeça, mas eu não sou dos que jogam papel no chão pra dar emprego pro gari. Eu não sou dos que fazem coisa errada só porque os outros fazem. Porém, estou sendo obrigado a fazer esse tipo de coisa pra não fazer coisa pior ainda: falar umas verdades bem espinhentas e dolorosas.

Resista. Faltam só alguns dias.
Não é assim que tem que ser, eu a estou enganando!
A solução alternativa, você bem sabe qual é, seu covarde!
Vá você então falar, então, fortão!
De qualquer jeito, ela vai jogar a culpa em você, você bem viu o nível de rancor da pessoa. Dois dias sem dar sinal e você é um ingrato. Três, você é um frio e egoísta, que não liga pros sentimentos dos outros. Quatro, então, você merecer arder no fogo da Santa Inquisição. Tudo isso porque você fica aí, bancando o bonzinho. Palmas, palmas! Alvíssaras à santidade incompreendida. Faça-me o favor! Não perca seu tempo se remoendo desse jeito. Tá no inferno, abraça o capeta.
NÃO! Não tem que ser assim!
Claro, claro, como se o que você está fazendo agora fosse muito digna de congratulação.
Cale a boca!
Não se esqueça que, nessa sua levada fingir que tem alguma coisa aí, VOCÊ está se enganando também.
Quer me deixar pior do que já estou? Eu sei disso, porra! Me dá uma ideia melhor, então. Sem ser essa aí que você tá pensando e que já me falou.
...
Aí, tá vendo? Fica quieto aí e não me incomoda mais. E tenho dito!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

I surrender

Vou ficar temporariamente devendo o "Dordelícia" de que citei antes.

Numa outra conversa que não queria ter tido se não fosse pessoalmente, a Di acabou por me arrancar uma informação: eu estava a tratando "diferente" justamente pra que a gente se esfriasse e terminasse naturalmente, assim que ela fosse pra essa viagem. Eu, burro que sou, voltei a dar assistência.

Não liguei na sexta, nem no sábado. Não havia um motivo especial. Não me deu vontade, só isso. Daí eu recebo uma mensagem com o mesmo teor das anteriores, porém um pouco mais incisiva: "você está esperando eu ir pra Madri pra gente marcar algo? Não tenho idade pra esse tipo de atitude. Acho que esse é que é você mesmo, frio, seco e egoísta."

O sangue me subiu na cabeça. Now is the time. Independentemente do seu estado emocional, independentemente de viagem próxima, ela apelou. E vai me perder. Peguei o carro e dirigi com as pulsações ardendo nas têmporas, tão rápidas quanto as batidas da música eletrônica que coloquei pra tocar.

Assim que entramos, um abraço longo. As barragens já não resistiram à represa de lágrimas. It's over.

Houve toda uma discussão, toda uma briga. Descobri até que ponto pode ir o rancor de uma pessoa, a ponto de salvar histórico de navegação só pra esfregar na minha cara sobre o que foi dito e não dito.

"Você está é querendo poupar você mesmo!" [sobre eu falar que estava "diferente" pra não deixá-la triste quando for pra Madri]. Sim, ela me pegou de surpresa. Pode até ser que eu realmente esteja me poupando de sofrimento. Mas também não vejo problema algum nisso, de qualquer forma.

Como é que eu falo isso?

Ressaltei o tempo todo que não fiz nada por mal. Achamos melhor terminar mesmo. "Eu gosto de você, não se esqueça disso". E levantei, dirigindo-se pra porta. Já estava recuperado, respirando normalmente, adrenalina baixando...

Paralisei.

Depois de toda a briga, nenhum dos dois teve força pra destrancar a porta. Se nós, nas travessuras das noites eternas, já confundimos tanto nossas pernas! Diz com que pernas eu devo seguir.

I surrender.

Eu gosto da companhia dela, mas estou realmente desanimado com essa insistência. Ao mesmo tempo, fico receoso de dar patada, e simplesmente estamos juntos porque eu tenho piedade dela. Piedade porque eu sei que todo o prazer que a gente se proporciona é meramente físico. Piedade porque ela associa essa minha vontade de proporcionar prazer com paixão. Piedade porque ela acha que, dando um chá de b***** em mim, vai me conquistar. Piedade porque essa insistência é atitude de "menininhas da minha idade", conforme ela própria fala (isso se não for de mais novas), e não de mulheres que "não tem mais idade pra esse tipo de atitude".

Claro, vou lembrar de tudo o que se passou entre a gente com uma lembrança boa. Não é que a gente não deu certo. A gente deixou de dar certo. É bem diferente.

Não adianta, é muito complicado querer explicar isso. Eu vou sair como o cafa dessa história, de qualquer forma. Mesmo não tendo sido. É perda de tempo eu querer terminar pacificamente.

Quer saber de uma coisa? Desisto. Não que eu tivesse planejado isso, mas não vejo opção: vou devolver as ofensas num touché friamente calculado. Pouco a pouco, vamos ficar um oceano de distância um do outro. Literalmente. Meu primeiro passo:

- Eu te amo.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Eu quero

Eu preciso de uma reviravolta na minha vida, urgentemente.

Quero começar o meu sonho de ser triatleta, quero recomeçar a aprender a tocar piano. Quero meu próprio apartamento - mesmo que alugado! -, decorado e equipado do meu jeito. Quero reinaugurar meu outro blog, a Cozinha de Engenheiro. Quero o Diplôme Approfondi de Langue Française. Quero o doutorado-sanduíche em 2013.

Quero tudo!

Quero o prazer da dor depois da maratona. Quero o prazer do musicista, aliviado depois de ter tocado sua música, perfeita, linda.

Se isso veio depois de conhecer o "sacrifício" até chegar ao prazer de dar prazer... talvez seja. Vou tentar exemplificar que dordelícia é essa no próximo texto, em que vou contar o que aconteceu nesse sábado.

Não, não tem nada a ver com ela.


sábado, 1 de outubro de 2011

Coisas que sei e não sei

Eu não sei por onde começar essa conversa. Eu só sei que me senti um ímpeto tão forte de vir aqui, conversar, que...

Eu sei que, se eu der um estalo de dedos, você se entrega toda. Eu sei que eu a faço arrepiar da nuca até a coxa se eu eu a tocar com um mísero dedo no local e na intensidade certa. Eu sei que deve ser por isso que você se derrete toda por mim, querendo ser uma mosquinha para pousar na minha piel de miel.
Eu sei que você está começando a se apaixonar por mim - se já não estiver completa, loucamente apaixonada.

Eu sei que deveria é me orgulhar muito disso, e sei que poderia usar isso como armas pra te tratar como um cão trata um dono: sabe como fazer com que ele fique todo feliz, com cinco minutinhos de brincadeirinhas, até que ele [cão ou dono] se cansa e larga um do outro.

E infelizmente é isso o que eu tenho feito: algumas sextas-feiras à noite, você me liga toda carente... e eu, bobo que sou, apareço aí, dou pelo menos duas, tomamos café juntos e vou embora no outro dia, normalmente perto da hora do almoço. Cinco minutinhos de brincadeirinhas e, quando um cansa, larga do outro.

Perdeu a graça. Não há mais mistério a ser descoberto. Ficou óbvio. E é por isso que eu desanimei do nosso caso. Vinicius de Morais, no seu poema famosíssimo "Receita de mulher", mostra isso: a mulher não precisa ser extremamente bela, mas é obrigada a ser misteriosa.

Não vou dizer que eu não esteja gostando das nossas horas íntimas. Diria eu que estou... deslumbrado. Errei, errei muito no começo; foram como as primeiras machadadas no tronco: nem arranham a casca, mas, sem elas, não se derrubaria a árvore. É o tempo que perdemos amolando uma faca na cozinha, mesmo que seja pra cortar um só legume - aparentemente desnecessário, mas essenciais. E por isso eu serei eternamente grato e certamente me lembrarei de você por toda a minha vida.

Eu sei que deveria falar tudo isso, de um jeito mais brando, cara-a-cara. Mas o medo de magoá-la é tanto, tanto! Na minha cabeça, parece que eu estou dizendo "vou ali ser feliz e fique você aí jogada, aos prantos, com as lembranças dos nossos momentos".

Por não saber como começar, tenho mandado pequenos sinais, não cedendo a todas as suas chamadas. Entretanto, você me chama de ingrato se eu não falo com você por um período superior a 24 horas. E você ainda se diz forte... "pode falar se você não quer mais que a gente se encontre, eu entendo, agora eu tô forte pra isso".

Sei.

sábado, 24 de setembro de 2011

Transcendental

Ou seja, nessa enrolação, nessa conversinha de chinês, nesse lenga-lenga, a gente se pega, mas ela está se apegando. Moi, nem tanto.
Talvez seja próprio dos homens se sentirem acuados quando ouvem um "amor mío" sussurrado em um hálito incandescente, excitante; mesmo que seja somente ao cantar Labios compartidos, que está tocando no computador. Talvez seja próprio dos homens se sentirem acuados quando ouvem o caso de quando ela foi à ginecologista e, ao responder sobre ter um namorado, ela dizer que sim; mesmo que seja somente para simplificar à médica algo que nem ela sabe do que trata, mas acha que sabe. Mas certamente não é próprio dos homens sãos não quererem continuar, mas irem levando "de barriga" [principalmente de barrigas coladas uma à do outro], só por causa de um possível medo de fazê-la sofrer. E sofrer com isso.
Seria muito mais fácil eu ser cafajeste, pisar bastante, esnobar, não fazer ela ter cinco orgasmos em uma noite ser egoísta e wham, bam, thank you ma'am. Não adianta, eu não consigo.

Agora, será uma meta. Terminar esse... esse... essa coisa entre mim e a Di é uma decisão que transcende o campo dos relacionamentos. Por mais que possa doer em mim agora ou logo depois, é um investimento de longo prazo. Não quero mais brincar de guardar mágoa própria pra evitar a alheia. Assim como um pouquinho de álcool pode fazer bem, um pouco de egoísmo também faz.

Não vai fazer sentido pra ela, eu sei. Só faz sentido aqui na minha cabeça. Nem pros que sabem desse meu segredo vai fazer, então que se foda.

Explicação, é claro que eu vou dar outra. Quem é que já não contou mentirinha ou outra?

domingo, 18 de setembro de 2011

Longa história


[Leia este post primeiro.]

Mas daí ela, insistindo muito, me convida "pra ir comer um bolo na casa dela". Eu, acreditando que era só visitar mesmo, fui. Não porque queria, não porque estava com vontade.

Já viu, né.


Um sixty-nine, um squirt. Eu, dois; ela ficou me devendo três.

- Você foi na festa do Tusca? - meu colega de apartamento, que não é mais o Carlos*, me perguntou., logo que pisei em casa, às quatro da tarde do outro dia.
- Então... é... errr - respondi, com mais rangidos que uma porta enferrujada. - Não exatamente, mas é longa história.

E ficou por isso mesmo.
Eu tento, juro que falo pra mim mesmo: não quero, não dá, não tá certo isso! Mas a gente se encontra e tudo incendeia...

Longa história. Tão longa que eu não estou vendo o fim.

Documentos

Semana passada foi a formatura do Gabriel*. Voltei pra casa, fiquei lá uma semana.
Voltei feliz, mas com uma ideia fixa na cabeça: eu não quero continuar nessa enrolação e não quero mais me encontrar com a Di.
Eu sei que é de assustar, ainda mais depois de tudo isso que a gente passou junto, do que eu escrevi. Sim estou curtindo, mas é que não dá, não sei explicar. Os dez anos de diferença pesaram aqui: logo logo ela vai ter terminado o doutorado, e eu mal vou ter terminado o mestrado.
Também tem o fato de ela ter que fazer uma viagem internacional de quase 5 meses daqui a pouco tempo. Não adianta, eu sei que distância mata. Nem me venham com mimimi clichê - já vi muita gente teorizando sobre isso e um mês depois já tinham terminado relacionamento de mais de anos. À distância, pra piorar. Quanto mais um casinho ridículo desses.

Ressalto: não estou falando aqui que eu tô querendo "aproveitar a vida", porque eu nunca fui de esbórnia, cês bem sabem. Aliás, daqui a pouco eu escrevo uma coisa sobre isso.

No terceiro ou quarto dia que eu estava em casa, Di me mandou uma mensagem no celular. Ia responder meio que por educação, só - querer responder, mesmo, eu não queria. Ah, tudo bem, daqui a pouco eu respondo. Quinze minutos depois, a bateria do meu celular acaba. Ah, tudo bem, eu ponho pra carregar e...
Ops! Cadê o carregador? Ih, está a 280 quilômetros daqui, esqueci em São Carlos. Ah, tudo bem, eu respondo pela internet. Daí minha casa fica sem internet pelo resto da semana.
Ótimo.
Na mensagem: "Pessoa ingrata, nem dá notícia, nem um oi! (...)", dentre outros assuntos aleatórios.
E desde quando eu devo dar notícias? Nem pros meus amigos eu fico avisando se eu estou fazendo coisa x ou y, por que eu deveria? Não me sufoque. Não preciso ficar documentando meus passos.
Deixa eu querer fazer isso. Quando eu quiser fazer isso, pode ter certeza que aí sim temos um compromisso.
Engraçado, isso: dar liberdade pra que o outro se sinta na obrigação de contar como foi seu dia. Já escrevi sobre isso antes.

Na formatura do meu irmão, duas grandes decepções, ambas tendo a ver com meu primo Felipe*. Não sei se foi porque ele namorou sete anos e depois terminou, mas hoje ele é um recém-formado bon vivant: gasta quase inteiro o já abastado salário dele com luxos: baladas regadas a bebidas caras, carro esportivo importado, eletrônicos não tão essenciais.
Felipe trabalha na região de Belo Horizonte. Ainda assim, viajou mais de 600 quilômetros só para ir para a formatura do meu irmão.
Decidiu assim, de sopetão: estou saindo de BH pra formatura. Causou vários problemas quanto à quantidade de convites, à ida das pessoas pra formatura, tudo. Acabou por fazer meu irmão comprar um convite em cima da hora, preço lá nas alturas.
A cereja do bolo? Desacompanhado. E sem avisar pra namorada.
Ele sim teria que avisar. Não perca seu tempo em me falar que ele veio pra comemorar a formatura porque eu sei muito que não é esse o motivo. E ele perderia a oportunidade de uma balada com três garrafas de whisky, uma de tequila e uma de vodka importada  [sim, meus irmãos são uns sem-noção] de graça, fora outras bebidas comuns aos outros convidados? Never!
Tudo isso sem nem sentir a cara queimar.

Não que tenha que ser uma obrigação "de documento", mas teria que haver uma... uma... vontade de querer avisar, pelo menos.

E é justamente isso que eu acho que aconteceu entre mim e a Di: não existe ainda essa vontade. E ela atropelou. E eu desanimei muito.
Sei que é muito egoísmo da minha parte querer terminar o que aconteceu com a gente por causa disso - afinal, eu também fiz isso - atropelar as coisas - no começo.

Mas daí...

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

I'm in love

É, eu não tenho que escrever só pra desabafar. Resolvi escrever hoje só porque eu estou... feliz.

Já me perguntaram se eu estou namorando. Já me mandaram, de brincadeira, um link de "Love's in the air" no Youtube. Não, não acho que esteja in love with her. Com as ideias mais assentadas na cabeça, estou levando, deixando acontecer; como Montesquieu me ensinou bem. Ao mesmo tempo, não sei definir o que é isso. Me ajuda aí:

A Di e eu, quando nos encontramos por acaso, nos corredores do departamento, conversamos como se fôssemos bons amigos. Via internet, perdemos a vergonha e combinamos programinhas bobos, sair pr'algum barzinho, comer e beber alguma coisa. Toda vez, termina under the sheets.
Da última vez, ela seguiu diquinhas dazamiga, com certeza. Mais vontade, mais ardência, mais fogoum corpete alucinante, um espelho... Até aconteceu um pequeno acidente por causa dessa... dessa... querência voluptuosa.

Ela não é assim, não foi natural. Tá, aquela amaciada no meu ego, claro: ela está tentando me conquistar. Pelo sexo, o que pode não ser uma estratégia boa. Afinal, eu não sou um moleque que acabou de perder a virgindade.

...

...

Tá, tá, eu sei que sou, mas cês entenderam.
Enfim, voltando: ela está tentando me conquistar. Ou seja, eu sou um bom pedaço de mau caminho... estaria eu, então, sentindo estes efeitos?

Não foi só a Di que fez essa reviravolta em mim. Foi o fato de eu ter me tornado mais vaidoso, mais preocupado (que ironia!) com saúde, bem-estar - corrigindo desde os dentes até a circunferência abdominal. Se todo esse bem-estar, essa felicidade comigo mesmo culminou nela, foi uma mera questão de consequência.

Tudo indicaria que sim, estou apaixonado. Apaixonado? Só se for pela vida.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Surpresas e cafajestagem

Inesperadamente, ela já esperava a minha reação. Inesperadamente, ainda estamos nessa relação esquisita. Inesperadamente, aquela conversa terminou under the sheets. Mais... naughty, com mais força, com mais... pegada.
Esperadamente, I failed. Porra! Até quando isso?!

Na segunda tentativa, já esperando que fosse acontecer de novo, não me preocupei comigo, só com o dela. I made her get there so easily...

Não suportei o turbilhão na minha cabeça. Resolvi abrir o jogo e contar sobre meu problem que tenho tentado tratar, mas ainda não comecei, alegando que possa ser uma possibilidade. Nessa levada, acabei que descobri nela alguém em quem confiar, com quem poder desabafar quando puder. Um quase-caso de Let's just be friends. Mas friends with benefits, já diria uma música velha.

Pior de tudo é saber que, modéstia à parte, eu tenho pegada, eu fui um aluno exemplar, descobri fácil demais pontos fracos dela (termos dela), mas por que eu não consigo? Por que nem eu conheço meus weak spots? Como faço pra descobrir?

Praticando juntos, oras.

Será que eu conseguiria enganar tanto a mim mesmo e a ela, fazendo-nos um ao outro de lanchinho da madrugada, só para que eu me descubra? Será que eu consigo ser tão cafajeste a esse ponto?

domingo, 31 de julho de 2011

Dose

Ontem, na festa da Tânia, eu não conhecia quase ninguém. Não restaria muitas opções à exceção de ser o casal que se isola de todos. Só o fato de eu ter aceitado o convite (meio a contragosto, já que eu previra esse isolamento) já era um sinal.
Dessa vez, eu propus que fôssemos elsewhere more private. Saímos à francesa. Fomos de novo chez elle, dessa vez with protection.
Não vou descrever mais detalhes porque esse é um blog de família. E também porque o ansioso aqui failed five times in a row.

Entre a primeira e a segunda, eu a perguntei se queria ser my girl.
- Ainda vai aparecer uma menininha da sua idade... - respondeu.
- Desde quando eu era mais novo, eu nunca convivi com pessoas da minha idade. Por exemplo, eu vim muito cedo aqui pra São Carlos, mal tinha 17 anos. Não consigo conviver com gente mais nova... Quer prova maior do que isso aqui? - e forcei hips against hips, fazendo-a sentir meu calor.


Você não respondeu a minha pergunta.


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Mesmo sabendo que ela tenha aproveitado a noite at least twice, eu não estava com uma cara muito satisfeita, por razões óbvias. Ou não. Claro, ela percebeu e tentou consolar. O mesmo blablablá que eu já estava imaginando. "acontece", "cê tá nervoso" e afins.

Deep inside eu não estava cabisbaixo por não ter aproveitado, mas sim com a consciência pesada de tê-la pedido. Conforme eu enfatizei tanto a ela: foi tudo rápido demais. E eu ainda vou e atropelo as coisas? Falei mal dos que agem impulsivamente não tem muito tempo e acabei de repetir o mesmo erro deles. É engraçado isso de a gente falar, teorizar; mas quando a coisa aperta, a gente mete os pés pelas mãos e queima a língua.

Agora, recebi uma mensagem dela, dizendo que "pensou melhor sobre o assunto e que queria conversar". Respondi falando a mesma coisa. Só que tem que ser pessoalmente, né? Ui, que medo. Não, não estou arrependido, se for isso que você está pensando. Não vou dormir, de tão curiosa. Nem eu.

Infelizmente eu não estou enxergando agora uma maneira feliz de isso acabar bem. Quando eu começar a falar que eu propus no calor do momento, e que - por enquanto - queria pensar melhor no assunto, nós dois vamos sair feridos. Não vou ser íntegro (por não manter minha palavra), mas é melhor assim do que um "eu aceito" seguido de uma relação marcada por não-afinidades. A gente não se conhece a esse ponto, eu não pensei na seriedade do assunto... não, não surgiu nenhuma "menininha da minha idade", conforme você me disse ontem. E também não é coisa de "quero aproveitar a vida", clássica desculpa de malandro que quer dar um tempo pra esbórnia. Também não estou com vergonha de nada do que tenha acontecido. Aliás, nunca estive tão feliz. O problema é que "a diferença entre remédio e veneno é a dose", e eu sinto que o remédio tá começando a dar alguns efeitos colaterais.

É engraçado como teve que ser assim, acontecer tanta coisa ao mesmo tempo! Staying with her, getting laid, breaking up. Tudo em menos de um mês.

Se vamos sofrer? Certamente. C'est la vie: bleue et blanche.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Já diria Montesquieu

Não consegui raciocinar de novo, logo depois do banho. Mas não de nervosismo, e sim de êxtase.

Tomamos café numa padaria perto da casa dela. Infelizmente eu tivera que ir embora porque tinha um experimento pra começar (pois é, num domingo!). Fazer o quê.

Enquanto preparava o material para começar o experimento, um mal-estar enorme. Sensação de culpa, não sei por quê. Bom, na verdade, sabia sim...
Quase passei mal no laboratório. Pior (ou melhor, não sei) é que eu estava sozinho - o departamento inteiro vazio. Começado o experimento, voltei pra casa e imediatamente peguei o celular.

- Sabe, Di, eu tô um pouquinho preocupado.
- Por quê?
- Ah, cê sabe...
- Imagina, eu me previno! Não quero filho agora de jeito nenhum! Se eu não tivesse tomando pílula, eu certamente não teria feito nada disso... não se preocupe.
- É, realmente, foi um risco. Mas foi um risco que valeu a pena...
Risinhos dos dois lados.
- Foi arriscado, mas da próxima vez, venha preparado! - disse, em tom de brincadeira com fundinho de verdade.
Próxima vez? Tá bom, então.

Enquanto o experimento que eu começara no domingo acontecia, fiquei revisando artigos, mas com a cabeça longe, longe! Eu "lia" sobre controle de processos de secagem, mas nem os meus pensamentos estavam controláveis. Foco, meu fi'!

Finalzinho da tarde, estávamos o pessoal do laboratório, o Bruno* e eu jogando conversa fora:
- Porque esse aí ama! - disse Bruno*, apontando-me com o queixo.
Gargalhadas a mil.
- E então? Você tem tido contato com ela? - Alê me perguntou.
Só pra fazer graça, deixei o silêncio sepulcral falar por mim por dois segundos. Parada dramática. Contato? Até demais, diria eu. Minha resposta de verdade?
- Uai... - e uma coçadinha na nuca.
Novo estouro de gargalhadas.
- Como assim, "uai"?! Quer dizer então... vocês têm conversado?
- É... 

Vogais são comigo mesmo.

Cheguei em casa, e resolvi dar uma ligadinha. Ops, mensagem às 10h da manhã?
"So queria te falar que gostei mt dessa noite e que pode ficar tranquilo qto ao que me falou agora. Bjim"

Apesar do fail e da pressa? Bom começo, champion!

- Passei em frente ao seu laboratório, mas estava tudo apagado. Você estava lá hoje cedo? - perguntei.
- Não, é que, como eu estou escrevendo, normalmente eu fico em outra sala, do outro lado do corredor.- esclareceu Di. - Fiquei preocupada, você não me respondeu a mensagem.
- Desculpa, só fui ver agora há pouco. Tudo bem, passou. - eu disse. - E então, como foi seu dia?

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A sala onde eu começo os experimentos é de frente à sala mencionada. Hoje cedo, quando eu fui pegar as amostras, passei em frente a sala dela e voltei, dando uma leve pescoçada para trás pra conferir se era aquela mesma. 

- Então é aqui que você fica.
- Entra, entra; pode entrar.

Di então me convidou pra uma festinha que a Tânia* estava organizando, em comemoração à defesa de mestrado dela. Olha só, no final das contas, pode ser que a mensagem seja de verdade mesmo.

No final das contas, eu tô sentindo que tá evoluindo. Quem sabe a gente não oficializa na festinha da Tânia?

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Mais tarde, no clássico intervalo do café da tarde no meu laboratório, alguém trouxe bombons. Justamente quais?
- Não, obrigado. - eu já havia comido umas frutas logo antes.
- "Serenata de amor". - leu Bruno* no embrulho dos bombons. - Se bem que cê nem precisa disso, né? Porque esse aí ama.
De novo? Sacre bleu!
Pior de tudo foi que eu contara, algumas horas antes, que eu havia sido convidado à tal festinha.
- Ah, mas vocês não estão sabendo da maior! - gritou Daniela*, a quem eu havia contado por acaso do convite. E ela revelou o fato.
- Vai veeeeeendo! - Alê, com mais um dos seus bordões...
- Investe na Di, ô! - sugeriu Daniela.

E mais e mais piadas a meu respeito, a nosso respeito.

De repente, Bruno* me solta uma bomba:
- Nada, nada ela deve ser quase 10 anos mais velha que ele. O quê, ele tem 21?
- Vinte e dois - respondi num tom sério e grave.
DEZ ANOS?! Eu sabia que ela era mais velha, mas eu estava chutando no máximo uns cinco.

Tá, dez anos também não é. Enfim, naquela hora, eu me lembrei de uma história antiga, que nem contei aqui. Sobre a Juliana, minha cunhada, já citada aqui no blog, por sinal. Ela é mais velha que meu irmão mais velho, que hoje tem 26 anos, mas namora o Gabriel, um dos gêmeos, 24. Ela deve ter lá seus 27, 28, não sei. Ouvi dela uma conversa assim:
- Se a gente não casar até eu ter uns 30 anos, eu termino!
E me ecoou na cabeça a ameaça da Juliana*, porém vinda de oooutra pessoa num futuro não muito próximo. Desanimei.

Poxa, eu tenho só vinte e dois anos! Por mais rápido que tudo isso tenha sido, não preciso me amarrar desse jeito agora!
Ô, japonês, abre o olho! Quem é que tá falando em casamento agora? Laissez faire, laissez passer, le monde va de lui même. Já diria Montesquieu.
Mas existe o risco.
E daí?! Por causa disso, então, cê só vai "conhecer" pessoas da sua idade? Além do mais, cê nunca conviveu com pessoas da sua idade, todas sempre foram no mínimo um ano mais velhas; o que, aliás, era um caso raríssimo, já que sempre eram mais de dois anos, na média.
Sim, sim, eu sei. Vou deixar o mundo ir por ele mesmo, então.


Liberdade ao mundo pra que eu talvez me prenda. Irônico, não?

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Inocência [NSFW]

Conversa vai, conversa vem, e eu convidei a Diana pra ir a um barzinho daqui de São Carlos.

Eu estranhei, à primeira instância, que outras pessoas também foram com ela. Não que eu tivesse esclarecido que era um rendez-vous, mas essa sim era uma ótima maneira de "se defender" de mim. De qualquer forma, não agi como se fôssemos un couple. Nem ao menos a beijei quando eu cheguei à mesa.
Frieza demais? Talvez. Mas o fato de não sermos só nós dois foi um pouco... chocante pra mim. Não que eu esteja digging on her that much.

- Senta aqui do lado da Diana - dizia Tânia*, melhor amiga dela.
Todos trocaram de lugar por causa disso.

Certamente, pela conversa na mesa, eu acho que fui tachado de nerd. Mas os assuntos surgiam, eu dava pitaco, fazer o quê? Uma mesa só com pós-graduandos em áreas parecidas... não tinha como não conversarmos sobre nossas rotinas. Da mesma forma, por mais que colegas de trabalho que saiam pra um happy hour não queiram que assuntos do trabalho surjam, eles insistem em dar as caras.

Resolvemos ficar mais perto da banda que estava tocando. Em pé, passei o braço pela cintura dela. Olhos no olhos...

Longest kiss ever. Não que eu tenha lá vasta experiência no assunto, mas começar a ficar turned on já mostra a intensidade da coisa. Eu a puxava mais perto, para que ela me sentisse também. Minha forma de dizer "don't play with fire, or you'll burn yourself!".

That's a rocket on your pocket or you're just... happy to see me?

Um pouco mais tarde, as outras pessoas disseram que iam passar em outra balada.
- Tô um pouco cansado, Di. Eu acho que não vou. - eu disse.
- Faz assim então: - disse Tânia. - você tá de carro, né? Quem não vai? Daí eles vão com você e você leva a Di de volta pra casa...
- Tá, mas eu preciso buscar o carro. Vim a pé porque era muito perto.

Voltamos pra casa. Por um instante, me veio à cabeça a ideia de pegar a condom em uma caixinha do lado da cabeceira da cama, perto de onde eu sabia estar a chave do carro. Nem sei porque eu mantenho essa caixinha, nunca usei, afinal... será que hoje pode ser a estreia dela? Ah, larga de ser pretensioso! Tem nada a ver.
Daí o tapado largou a caixinha como estava. Intacta.
Na porta da casa dela, uma "despedida" longuíssima. Em meio a respirações arfantes no carro...
- Quer subir?
- Posso? - perguntei, num meio riso, num meio beijo, meio arfante.

Senti uma mão querendo conferir onde antes estava o rocket on the pocket.
Acho que isso era um sim.

Olhando pra trás, eu aticei e todo mundo estava indiretamente conspirando: a mudança de lugares, a Tânia me empurrando a Di para que eu desse carona... Mas pergunta se o tapado aqui pensou nisso antes! Olha a inocência da pessoa! Cadê a pretensão? Cadê a proteção?

Minha cabeça latejava, feliz e tensa. Mãos geladas, eu tremia de... frio? Também.

Almost naked, e meio que já prevendo o que estava por acontecer, uma revelação estava entalada na minha garganta.
- Preciso te contar uma coisa.
- Conte.
- First time. - Sim, eu disse assim mesmo, não é vício de anglicismo típico dos textos que escrevo.

Sussuros, puxões de cabelo, carícias. E nada de turning on da minha parte. Pelo menos eu preciso garantir o dela!
Desci. Tirei o embrulho do presente bem vagarosamente, com a boca. Mordidas de leve nearby, sentia o quadril dela subindo, pedindo. Eu ria internamente, irônico: calma, que pressa é essa?

Por quê?! O tempo todo você esperava por esse dia e agora isso?!
- Relaxa - sussurava-me vagarosamente ao pé do ouvido.

Desistimos.
- Desculpa. Mas é o que eu te disse, tô nervoso...
- Tudo bem eu entendo. Você tá cansado da viagem, também. - consolou.

Ela ficou aconchegada no meu peito, como se contemplássemos o céu. Eu pensei que se eu me expusesse um pouco mais, talvez a adrenalina baixava um pouco. Algo parecido com que eu faço escrevendo aqui.
- Preciso te contar outra coisa. Aquele dia... também foi meu primeiro beijo.
- Sério? Mas você estava todo saidinho...
- "Saidinho"?
- É!
- ... É um pouco difícil pra mim, sabe?
- Mas com certeza não devem ter faltado meninas...
Respondi rindo. Tentando levantar meu ego e something else... entendi.

- Tá vendo, não tem nada de difícil...

Não consegui dormir. O sobe-e-desce do meu peito a acalentaram num sono leve.

Pouco mais tarde, alguns barulhos na rua a despertaram. Ela se remexeu um pouco.
Procurei sua boca. Beijei-a longa e levemente - já que foi assim no bar, why not try again?

Deu certo. Tá aí, é um jeito legal de eu me conhecer, também.

Agora sim.

Pena que fui rápido demais. Acho que, no final, eu ainda estou um pouco nervoso.

- Tá vendo, era só você relaxar...
Respondi num riso grave e baixo permeado de beijos na nuca.

Logo logo eu já estava turned on de novo. Dessa vez, mais intenso. Mudando de posições, de frequência, de intensidade... nosso suor nos ligava, we sway like branches on a storm.

Caí, prostrado, esgotado. As maçãs do rosto, porém, me tremiam de tão contraídas num sorriso abobalhado.

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- Vamos tomar um banho? - ela convidou.
Nenhum chuveiro elétrico conseguiria me aquecer - meu corpo estava quente demais pra isso. Sentir o chuvisco nos cabelos, aquele corpo pequeno perto do meu... Instintivamente, peguei-a pelas coxas, suas pernas me enlaçando nas costas. Tentei start over again. Sem sucesso, mas sem neuras.

Três é demais.

domingo, 10 de julho de 2011

Nada de mais...?

Foi aniversário de 25 anos do Bruno* outro dia aí. Ele conseguiu umas cortesias de uma balada aqui em São Carlos. Não tenho lá tanta amizade com ele, mas não tinha motivo pra não ir. Já tava meio nhé porque fiquei no laboratório até mais tarde, mas de cavalo dado não se olham os dentes, n'é verdade?
Procês terem noção do meu ânimo, eu passei antes na farmácia e comprei cápsulas de pó de guaraná. Senão eu ia ser o chato da vez, querendo ir embora. Já parti pra ignorância e tomei logo duas.

Chegando lá, só eletrônica. Tá, eu sabia que ia tocar samba e pagode (!), mas já tava enjoando o tum-ts-tum all night long.

Meio alterado pela junção cinco long necks + duas cápsulas de pó de guaraná, mas não estava sem noção ou amnesiado. Estava fazendo nada de mais, mas eis que ela surge. Nem sabia quem era, nunca tinha visto, mas era convidada do Bruno. Não trocamos a single word, só estávamos dançando, non plus. Ela não estava se aproximando slutty way, mas estava way too close. Só pra fazer graça, eu dei um puxãozinho mais fierce, looking at her lips.

Minhas costas arrebatadas na parede, newt feelings. Mãos dela nos meus ombros. The heat of her breath on my face...


São Carlos, nove de julho de 2011. Aos vinte e dois anos.


Deixei que ela "guiasse", por razões meio óbvias. Nem por isso me mantive à deriva, par contre.


O mais bizarro de tudo foi nem ao menos saber o nome dela. Horas de amasso e mordiscadas (até fiquei com "medo" de ficar com a boca roxa), paramos até de dançar, cansados. E ficou aquele silêncio de elevador. Claro que falar de silêncio em uma balada é bobagem, mas cês entenderam: aquele "silêncio" incômodo, pedindo pra ser quebrado.
- Sabe que eu tô achando uma coisa estranha?
- O quê?
- A gente mal trocou umas palavras! Não sei seu nome, por exemplo. - eu sei, depois desse tempão, era a coisa mais ridícula que eu poderia ter feito, mas era inevitável.
- Diana*. E o seu?
E continuou comme ça. Nomes, origens, e tal.

Depois de mais um desses silêncios perturbadores:
- Você faz engenharia química também? - olha só, no final das contas, ela é quem está puxando assunto...
- Sim, entrei no mestrado agora. Formei aqui também, então faz cinco anos e meio que estou em São Carlos.
- Hm. eu faço doutorado, eu tô no segundo ano.

Olha só como a gente inverte todas as coisas. Eu só fui conhecer-CONHECER a Diana depois de mais de duas horas avec elle. "Primeiro a gente foge, depois a gente vê"...?

A Alê estava lá. Bêbada é pouco. Lógico que ela não poderia deixar de me zoar um pouco, né? "Aeeee, pegando, hein?". Mal ela sabe que nem eu estou entendendo a situação.

Longa despedida, com direito a remember. Ela ia num carro com outras amigas dela, de carona, com sete pessoas num Celta. Acho que o carro ia explodir se alguém abrisse a porta depois. E eu, sozinho, num Fit... Não que eu a estivesse "comprando" com o carro - até porque ela nem sabia dele -, mas entre ficar num aperto daqueles e uma carona um pouco mais confortável - pelo menos fisicamente...
Ofereci.
- Pode deixar, eu vou com as minhas amigas. Elas moram perto de casa.
Eu só estou oferecendo uma carona! Não estou fazendo nenhuma proposta indecente. Se elas quiserem ir, no problem.


Depois, fui até a casa do André*, colega meu do mestrado, pra "terminar de beber as cervejas". Eu já tava meio cambaleando de sono, o guaraná tinha ido embora. Mas fui. Eu quase virei assunto da roda.

- Não, peeeensa! Esse niver do Bruno só deu bafão! Agora vai ter que por na roda! - eu já estava grinning quando ela disse isso - Ela é lá do DEQ, né?
- É - respondi, ainda com um sorriso amarelo, recostando a cabeça ao sofá. Stop this, please!
- Ô, chama ela pra vir pra cá! - sugeriu André. - Liga lá pra ela.
Eu não tenho o telefone dela! Pensei em dizer, mas preferi não comentar o fato. Até porque deu pra perceber que eles dois queriam um momento seuls, e eu e mais uma amiga da Alê sobrando.
Não peguei número de telefone. Só sabia que ela também é pós-graduanda no mesmo departamento que eu, que tem um nome diferente (por razões óbvias, usei um pseudônimo que ilustrasse isso) e que foi numa mesma festa que eu antes dessa balada. Tudo o que eu precisava pra achá-la no Facebook. Adicionei.

Eu sei que tô cortando a história bem no meio, mas that's all, folks, é o que eu tenho pra contar do que se passou. Mas aqui vão meus alguns insights sobre o ocorrido até o momento:

Primeiro, o fato per se. Tudo uma sequência de... acomodações, deixa isso pra lá, vem pra cá, o que é que tem? Eu não tô fazendo nada, você também. Tô por entender tudo isso ainda. Isso acaba levando à mesma conclusão do segundo insight:

Segundo, a recusa da carona. Tá, eu não estava boasting myself at any time, mas sabe quando a luzinha CAUTIONCAUTION acende? Então, na cabeça dela deve ter sido bem assim. Certeza que ela deve ter pensado mal de mim, mas o que eu posso fazer? Nada. Rien.
Bom, eu também senti o CAUTION: entre ficar naquele aperto e ir de carona, does that mean a one-night stand? Preferível ficar naquele aperto do que close to me? Então tá, we have a deal. Ou então era só questão de fazer de difícil (não que eu quisesse anything), ou seja, tem coisa aí...? Não sei.

Terceiro, a Alê me zoando. Desprezando sua ebriedade, eu já estava esperando algum comentário mais malicious, não necessariamente por parte dela, já que ninguém me viu with someone before. Mas não. Ainda bem, porque ia ser uma bela de uma saia justa! Por isso eu só respondia com um sorriso amarelo. Complicado demais pra querer justificar com uma direta "that's my first time, got it?" sem ser motivo de piada.

Quarto: quando no primeiro ano das disciplinas do mestrado, eu conheci o Joel*, que estava lá também e que é do mesmo grupo de pesquisa que a Diana. Escutei algo como "fura olho" nearby. O que me deu um pouco de nojo, actually - por eles serem colegas de laboratório. Sim, além de criticá-lo, eu vou fazer uma autocrítica também e, ao mesmo tempo, pagar minha dívida devida desde esse post: saber que aquele seu colega, no final das contas, tem second intentions, não faz pensar em traição, já que fica parecendo que todo esse companheirismo foi uma armação pra chegar nos finallies?
De fato, as mulheres têm razão quanto aos homens [que fazem isso] não prestarem. Isso é ambição! Não dá pra contentar com uma amizade boa, tem que arriscar. Por um acaso o blood flow down there te faz faltar oxigênio no cérebro?!


Deep inside não estava e nem estou tão extasiado assim, como dá pra perceber pelo que escrevi. Mas eu acho que é por aí mesmo, eu não tinha que estar aí subindo bem alto pra gritar, indo de escada pra elevar a dor. Não mesmo. A gente é sobrecarregado de historinhas cheias de mimimi, que a gente complica tudo. A gente quer história pra contar, e não uma vida fácil, sem graça, sem... passion. A gente quer tudo intenso, vibrante, vermelho. Mas a calma, a quietude azul também tem lá sua beleza, pourquoi pas?

Carpe diem? Não, sou mais laissez passer. E não, não é passividade. É não se perder em ilusões.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Mulheres [e homens] de fases

"Mulher poderosa" e "homem de qualidade" viraram jargões no meu laboratório, por causa de um livro que a Alê leu. Tá, o conceito não é lá tão impressionante, mas pro tipo de criação que a grande maioria das mocinhas têm hoje, só se aprende o que está no livro depois de muitos tapas na cara.
Resumidamente, a mulher poderosa tem auto-estima elevada, mas não é arrogante; não cede facilmente, mas não é durona. Tudo uma questão de ser equilibrada. Se ela for assim, ela consegue um homem de qualidade: aquele que nunca a conquistará por completo, mas que fará seu esforço. Sem se anular, c'est claire.

Adoro idealidades.

Por isso mesmo que eu acho que não é tanto questão de ser poderosa ou ser de qualidade. Por isso mesmo, eu vou também inventar minha teoria sobre o assunto: as fases P.
As fases P são meio que estágios da vida da pessoa que regem os possíveis tipos de relacionamento que ela pode ter na vida. Longe de querer padronizar comportamentos, altamente não modeláveis! Só quis pensar num jeito de prolongar a discussão...

Primeira fase P: Pureza. Quando a gente acredita no "felizes para sempre", achando que só se vai ser feliz acompanhado. E esquece que a aliançazinha dourada não é garantia alguma de estabilidade, tampouco de felicidade. Estabilidade é entediante. E como a pessoa na fase Pureza demora para perceber isso!
Muito dificilmente os homens se prendem a essa fase. Tudo questão de criação: contos de fada enojam os meninos, encantados com a aventura, a adrenalina. Mesmo quando pequenos. Quando isso [homens se prenderem à fase Pureza] acontece, normalmente diz-se que ele é um "passivinho" que certa blogueira famosa já definiu, e que vai ser assunto pra outro texto mais pra frente, porque é muito pano pra manga.

Segunda fase P: Puta (isso mesmo). Os relacionamentos fazem a pessoa da fase pureza ficarem desiludidas, desacreditadas no "felizes para sempre". E com razão. Só que a pessoa cai na tentação, na luxúria, na várzea. A fase Puta é marcada por relacionamentos intensos, lancinantes. Porém fugazes e cíclicos, conforme vou explicar daqui a pouco.
Normalmente é muito mais duradoura nos homens, por questões culturais, de criação, sei lá. Nas mulheres, depende. Depende de quanto tempo demora ela demora para encontrar uma pessoa na terceira fase, que é...

Terceira fase P: Poder. Tá, eu usei o mesmo termo da autora (aliás, da tradutora, já que o título original do livro é Why men love bitches). Mas não encontrei termo melhor e que começasse com p. Novamente cansado(a) da esbórnia, a pessoa na fase Puta começa a se sentir cheia de relacionamentos vazios adorei essa antítese!. A pessoa, nas suas andanças, encontra uma pessoa na fase Poder. Misterioso(a), ele(a) é um desafio, parece (PARECE!) inatingível, indiferente... mas o que torna essa pessoa tão sexy?
Auto-confiança e auto-estima elevadas na medida certíssima é o que rege essa pessoa. Por "medida certíssima" entenda-se que ele(a) não atravessou a linha tênue que separa a independência da arrogância. No entanto, os Poderosos só se sentem atraídos entre si, o que faz eles parecerem indiferentes aos outros.

A autora define só o relacionamento Poderoso + poderosa, o que limita as combinações possíveis. Imagina aí uma tabela que fica mais fácil: cada "bloco" é uma linha de uma tabela 3x3, em que na vertical estão eles e na horizontal, elas.

Puro + Pura: relacionamento até legalzinho, mas que está fadado à mesmice. Existe muita coisa depois do "felizes para sempre", afinal.
Puro + Puta: o passivinho sofre, sofre! Às vezes, vai pra frente, resultando em madames cheias de plásticas  bancadas pelo marido (que nem sempre tem dinheiro para isso). Elas desfilam com seus Citroën Xsara Picasso acompanhadas pelo seu Yorkshire de estimação, enquanto ele vira madrugadas no trabalho. Mas o Puro é tão pisado pela Puta que acaba calejando, e se metaestabilizam (equilíbrio metaestável, sabe?). Uma hora a dor fica insuportável, resultando em separações homéricas.
Puro + Poderosa: Outro caso de passividade aguda, mas só um lado sofre com a separação nem sempre tão homérica - pra ela. Pra ela; afinal, a auto-estima da Poderosa é inabalável.

Puto + Pura: ela se esforça tanto, porque ela não aceita que o "felizes para sempre" não existe. Sofre porque ele não acredita mais nessas baboseiras. E - pior! - sofre calada. Estão aqui os casos de violência doméstica? Deve estar a maioria.
Puto + Puta: é... dá certo. Até que um deles encontra um Puto(a), fechando um ciclo. Os dois são muito voláteis, after all. Ou se um deles encontra um Poderoso(a).
Puto + Poderosa: ela só o aceitará se ele se converter ao lado negro da força. Caso contrário, ele vai levar um pé na bunda in no time. O Puto então, retorna ao ciclo anterior (Puto + Puta), até que ele se converta. Ela procura um Poderoso.

Poderoso + Pura: tem como acontecer? O poderoso só se sente bem ao lado de uma Poderosa. Isso é recaída do Poderoso na fase Puto, ou seja, só um passatempo de Puto + Pura.
Poderoso + Puta: dá uma baguncinha de Puto + Puta, porque o Poderoso pode estar numa fase de recaída, novamente. O Poderoso, ao contrário de uma Poderosa, é impaciente. E vai break up with her por não achar que ela está no seu "nível".  Lembrando: isso não é arrogância, é valorização do material... Ela, se continuar do jeito que é, cai no ciclo Puto + Puta ou Poderoso + Puta, até ser convertida.
Poderoso + Poderosa: o nirvana dos pares. Ah, quer dizer que esse par vai dar certo sempre? Não, porque os dois se sentem desafiados a conquistar um ao outro sempre. O problema é quando a dificuldade imposta é grande demais, ou seja, há uma supervalorização que ultrapassa a arrogância. Daí, o outro se sente desrespeitado, fazendo-o procurar um Puto(a), por ser mais fácil. Agora você sabe de onde vem os términos de relacionamentos longuíssimos para casamentos arranjados com menos de um ano de namoro...

Uau, até eu fiquei impressionado comigo mesmo.

E você, onde você se situaria? Eu diria que estou saindo da fase Pura - é só ler de volta tudo o que escrevi pra concluir isso -, mas ainda não sou Puto. Não consigo, não adianta. Como ultimamente eu tenho me sentido até bem - I got over Paola... not exactly, but now is NOT the time to talk about that -, parece que vou queimar uma fase. Será?

Mas não acredita muito nisso aí não, tá? Não tenho experiência alguma no que eu tô falando.

Mais um pouco de floreio e eu escrevo meu próprio livro de auto-ajuda...

domingo, 15 de maio de 2011

Jaqueta de couro

Está acontecendo aqui em São Carlos uma feira de vendedores de roupas para o inverno. Na falta do que fazer, resolvi ir à feira.
Não sei se é porque eu já fui tantas vezes a essas feiras em Uberaba, eu deixei de ficar impressionado com os produtos - sempre a mesma cara! Porém, desta vez, eu estava determinado a acrescentar um coringa ao meu guarda-roupas: uma jaqueta de couro.
Economizei um dinheiro da bolsa e fui. Vários tipos, várias cores... até fiquei indeciso. Quase comprei um blazer de couro cor-de-café (era perfeito, mas achei "social" demais), mas preferi a jaqueta no mesmo tom.
Chegando em casa, bateu o arrependimento, sentindo que foi um desperdício de R$ 360 (em seis vezes, que não estou podendo assim!).

Eu nunca vou ter a oportunidade de usar essa jaqueta, seria o mesmo que eu ter um smoking. Quando é que eu usaria?

 Só se eu fosse a um barzinho, ou sair pra jantar fora num lugar mais uptown, e olhe lá.

Rá, falou o grande frequentador de bares e de restaurantes.

E essa jaqueta de couro me deu uma ideia boa. Eu vou começar amanhã, sem falta, o tratamento. Descobri que, como aluno da minha universidade, posso fazer consultas com médicos (só casos "de ambulatório"), dentistas (desde que não envolva cirurgias ou ortodontia), fisioterapeutas e - last, but not least! - psicólogos de graça. Vou ligar lá e perguntar sobre como proceder para começar a fazer terapia.

O que tem uma coisa a ver com a outra? É que, começando eu a fazer terapia, eu vou melhorar minha auto-estima e, assim, eu vou sair mais. Daí eu não vou ter desperdiçado dinheiro na jaqueta.

Só por causa da jaqueta, tá?

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Escudos

Tava eu aqui à toa quando um teste de personalidade motivado pelo casamento real me chamou a atenção. "Descubra se você tem vocação para cavalheiro como o príncipe William". Esquecendo toda a fantasia que estão fazendo em cima do cara (ele precisa ser carismático por causa da profissão, e associam isso a ele ser um "partidão". Quem garante?), eu fiz o teste.

Resposta do teste a mim: Cavalheiro do século XXI. Parabéns! Você consegue ter bons modos sem ser cafona. O seu cavalheirismo é algo inerente à sua personalidade e você o coloca em prática no dia a dia, não só como um artifício de sedução. Faz sucesso com mulheres de todas as idades, pois não se sente o máximo.  Leva com humor suas deficiências e tem um charme natural.

Quem vê, pensa, coitado. Faz sucesso com as mulheres? Onde?
Nessa hora, todas grita de tesão quando me veem, assim como o fazem com o George Clooney (de novo, outro mito - os personagens que ele interpreta são homens românticos, intensos; que, em sua maioria, são muito... voláteis, digamos.).

... acho que aos poucos eu estou entendendo o porquê do succès avec les femmes.

Duas situações nessa semana me esclareceram o âmago da questão.

Esses dias, meu orientador tentou fazer alguma piadinha boba e eu, sem querer, podei duas vezes. Não fui grosseiro, só quebrei o clima amistoso, desviei do assunto.
A outra situação foi com a Paola. Ela estava em uma das salas no departamento, estudando, e me ligou no ramal do laboratório, perguntando se eu poderia tirar algumas dúvidas dela.
Fui lá, esclareci (acho) a dúvida dela.

- Queria que meu filho fosse igualzinho a você!

Eu pensei em algo sagaz pra falar: "Olha que eu sei um jeito de ele parecer, pelo menos fisicamente!". Mas não, só dei um risinho embaraçado, junto com aquela inevitável coçada na parte de trás da cabeça.

O âmago da questão é a mesma coisa que eu nem lembrava que eu escrevi: os escudos. Eu não me permito, eu não tolero, eu não deixo.

Amolecer esse coeur de pierre não ai ser fácil, não...

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Tudo igual?

É engraçado como eu me atraio por gente que me dá um pinguinho de atenção.

In hindsight, todos os meus casos que contei aqui até agora foram resultado disso. Talvez é isso que defina a temida friend zone: o cara tá numa carência só, daí aparece uma caboca lá que começa um tiquinho de amizade totalmente desinteressada. Por causa dessa carência, o cara acha que esse tiquinho de amizade é sinal de que ela tá afim. O cara tenta chegar junto, e acaba perdendo as duas coisas: a potencial the one e a amizade.
Nem preciso contar a origem dessa carência afetiva minha, né?



É incrível como meu laboratório atrai gente de tão longe. E o sotaquezinho gaúcho da Paola* me gusta.

Como ela é aluna nova do mestrado, ela está fazendo as "cadeiras", conforme ela diz: Fenômenos de Transporte, Cinética Química, Termodinâmica. Eu, por outro lado, só estou cursando "Térmo" [como a gente carinhosamente chama a disciplina], já que eu já fiz as outras. Daí, é um tal de pedir lista de exercício resolvida aqui, pegar um livro na biblioteca com a minha carteirinha acolá, um tal de me convidar pra ir ao rodeio de Jaguariúna, um tal de "já que você trocou a resistência do chuveiro da Alê*, você poderia ver o que se passa com a lâmpada da cozinha lá em casa"...

Epa, peraí! Essa assistência tá um pouco diferente do que eu estou acostumado!

The worst of all é que eu sei que ela tá namorando. Outro dia, nos rotineiros intervalos do café no meu laboratório, ela estava toda-toda elogiando o namorado dela. Par contre, eu ouvi a mesma Paola desabafando com a Alê ("veterana-mor" do meu laboratório e dona do chuveiro ex-queimado), falando que namoro a essa distância enorme não ia dar certo. Eu acho que elas não sabem que eu ouvi sem querer a conversa entre as duas.
Err... digamos que São Carlos é uma cidade que, por ser universitária, impressiona os mais acatados e os aliena os menos resistentes à vida bandida. É sério, não é pra rir! Fato que eu observei: dentre os que chegaram aqui em São Carlos para estudar e estavam namorando, quase todos terminaram antes do primeiro ano. Junte a isso o fato de ela ter cursado a graduação morando na casa dos pais...
Enfim, outro dia aí a Alê me perguntou se eu vi a Paola depois desse último feriado de Páscoa, porque queria saber dos bafos. Sim, ela voltou pra lá. Será que ela estava com planos de break up with him?


Tudo indica que tem caroço ness'angu. Mas experience told me que vai dar na mesma.

Não, eu preciso que seja diferente.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Agora, Inês é morta

Eu sei que, pra variar, tá um texto muito grande, mas eu garanto que vale a pena. Eu tô quase é começando a escrever um livro truly, se continuar assim...

Não sei se já contei isso aqui; acho que não. É história antiga, tão antiga que eu nem era nascido, ou era novo demais pra me lembrar dos meus early years.

Eu tenho irmãos gêmeos. Não gêmeo meu, mas somos quatro filhos, conforme eu já contei aqui: o Paulo*, mais velho; o Diogo* e o Gabriel*, que são os gêmeos; e eu, caçula. Quando Paulo tinha dois anos, os gêmeos nasceram. Prematuros (acho que foi de sete meses), por causa da pré-eclâmpsia. É, cês sabem: gravidez de gêmeos, o risco de hipertensão é maior, e tal. Por isso, o médico antecipou a cesariana.
Diz minha mãe que sentiu as mãos e os pés formigando durante o parto. As enfermeiras conversaram com ela, perguntando se estava tudo bem. Mas ela não disse estar sentindo nada de diferente, à exceção dos pés e mãos formigando. Diogo nasceu com menos de dois quilos; Gabriel, um pouco mais que isso.
No outro dia, ela foi à maternidade.
- O QUE A SENHORA ESTÁ FAZENDO AQUI?! - disse o médico que fez o parto, ao ver minha mãe com a cara colada no vidro.
- Uai, só vim ver os meninos...
- A senhora teve um ataque cardíaco no parto, não te falaram isso? E a senhora subiu todas essas escadas! Volte já pra casa! - e então, o médico pediu às enfermeiras que trouxessem uma cadeira de rodas.
Sim, agora faz sentido. As enfermeiras conversavam o tempo todo com ela durante o parto, perguntando sobre o que ela sentia, para que ela mantivesse a consciência, apesar da anestesia e do ataque cardíaco.
E assim, na outra consulta, o médico sugeriu que os dois bebês prematuros ficassem sob observação constante de enfermeiras, que cuidariam exclusivamente deles, já que foi uma gravidez e um parto complicados. Fazer o quê, meus pais contrataram três, por um período de 8 h cada uma, diariamente, até que eles pudessem sair da maternidade.
Gastaram uma fortuna. Meu pai teve que vender o carro, a filmadora (meu pai já foi cinegrafista, desses de casamentos, e tal). A situação financeira dos meus pais à época já não era lá muito boa - ele era sócio do irmão dele, que era muito pão-duro pra investir na loja, e ficavam estagnados, sujeitos à inflação e possível consequente falência da empresa. Ficaram mais de quinze anos sem falar um com o outro, por causa de uma briga decorrente dessa sociedade, que ocorreu alguns anos mais tarde.
Mas isso é outra história.
Enfim, voltando. Ainda bem que meu pai contratou essas três enfermeiras, porque senão Diogo não estaria aqui. Ele teve uma parada cardiorrespiratória ainda na maternidade. Pequeno e frágil como era (só 1,7 kg), Diogo não sobreviveria.
Também devido às complicações da pré-eclâmpsia, o médico sugeriu que, mais tarde, minha mãe fizesse uma ligadura das trompas. Outra gravidez dessa poderia matá-la. Mas ela não fez. Com que dinheiro?
Ainda assim, com meu pai quase indo à bancarrota e com o médico sugerindo técnicas de esterilização, nova gravidez. Uma irresponsabilidade tamanha! Depois de tudo o que passaram, conscientes do risco... Mas quem sou eu pra falar alguma coisa, não é mesmo? Não só por serem meus pais, mas também porque quem nasceu dessa gravidez fui eu. Por conta disso, eu suspeitava, desde que eu soube das truths of the life, de que a última gravidez da minha mãe foi... indesejada, digamos.
E eu acho uma situação um tanto estranha, porque eu nunca vi minha mãe contar história alguma dessa época. A única coisa que sei é que eu fui o que nasceu "maior" dentre nós quatro (mais de 4 kg, uma das origens da minha obesidade na infância e adolescência).
Aliás, eu sei de outra coisa, sim. Uma vez, nas férias do meu primeiro ano aqui em São Carlos, Ademir*, o engenheiro que cuida da manutenção das máquinas da loja do meu pai o convidou pra almoçar num restaurante pequeno, anexo a um hotel fazenda bem simples, perto de um centro espírita conhecido lá da região de Uberaba. Fomos meus pais e eu.
Um casal conhecido do Ademir estava lá também. Tinham dois filhos; um dos quais ainda era bebê.
- Nossa, quatro filhos! E você é tão jovem... Mal dou conta dos meus dois! - tagarelou a mulher, com a curiosidade de mãe inexperiente. E ficou perguntando aleatoriedades sobre essa época.
- Mas diga lá, foram todas... planejadas?
Parada dramática. Meus pais se entreolham. Eu engulo em seco, apesar do prato à minha frente e da fome de um almoço atrasado de domingo.
- É... - diz minha mãe, totalmente sem-graça - o último foi "escapulido".


- Vou dar uma andada - eu disse, logo que terminei de almoçar.
O hotel fazenda tinha um pomar. Vagando entre as mangueiras de mangas fora de época, ou perto da piscina com aquela molecada, que logo pegariam um resfriado por causa do vento que traria chuva logo mais... parei pra pensar.
Que situação embaraçosa foi para a minha mãe! Afinal, o fruto da última gravidez dela estava ali ao lado, um quase homem feito de um metro e oitenta e três.
Adianta eu me desapontar com o fato de eu saber que, a princípio, meus pais não queriam ter outro filho depois dos gêmeos? É óbvio que eles não queriam! Eles quase faliram por causa da quantidade de filhos que tiveram!

Voltando àquela história da sociedade: logo que meu pai brigou com meu tio, ele ficou muito tempo "desempregado" (sem nenhuma fonte de renda, entenda-se; afinal, se ele era sócio, ele não tinha um emprego de carteira assinada fazia tempo). Nós quatro estudávamos em escola particular. Eu estava na segunda série.
Coisa que eu soube anos depois foi que meus pais explicaram a situação financeira dificílima por que eles estavam passando à direção da escola, que negociou manter dois de nós (Paulo e eu) no colégio, mesmo sem pagar as mensalidades, sendo que seriam pagas quando a situação lá em casa melhorasse. Diogo e Gabriel passaram a estudar em escola estadual, o que durou dois anos. Acho que a direção aceitou essa negociação porque nós mantínhamos notas bem altas, enquanto que Diogo e Gabriel, nem tanto. De qualquer forma, foram dois anos de pindaíba forte.
Várias vezes vi minha mãe chorando na sala àquela época. Ela nunca me explicou o motivo, mas hoje eu entendo: "sacrificar" a educação escolar dos gêmeos por falta de recursos certamente não era algo fácil de suportar.
Como é que eles explicariam tudo isso a uma criança de seis, sete anos? Não que tenha havido uma conversa séria, em que tudo isso foi explicado mais tarde - eu só fui juntando as peças ao longo dos anos.

Não adianta: agora, Inês é morta. Ou melhor, eu sou vivo, e existo. Um filho de uma gravidez indesejada. Imagino que se deve ter um espírito tão... elevado, um grau de maturidade tão grande pra se aceitar essa vida intrusa, não planejada, indesejada, e ainda amá-la como um filho deveria ser amado, movendo mundos pra garantir alguma dignidade, um mínimo de conforto, um futuro a ele, que...

Realmente, nós nunca vamos ser suficientemente gratos a nossos pais. Eu, pelo menos.