quarta-feira, 27 de julho de 2011

Já diria Montesquieu

Não consegui raciocinar de novo, logo depois do banho. Mas não de nervosismo, e sim de êxtase.

Tomamos café numa padaria perto da casa dela. Infelizmente eu tivera que ir embora porque tinha um experimento pra começar (pois é, num domingo!). Fazer o quê.

Enquanto preparava o material para começar o experimento, um mal-estar enorme. Sensação de culpa, não sei por quê. Bom, na verdade, sabia sim...
Quase passei mal no laboratório. Pior (ou melhor, não sei) é que eu estava sozinho - o departamento inteiro vazio. Começado o experimento, voltei pra casa e imediatamente peguei o celular.

- Sabe, Di, eu tô um pouquinho preocupado.
- Por quê?
- Ah, cê sabe...
- Imagina, eu me previno! Não quero filho agora de jeito nenhum! Se eu não tivesse tomando pílula, eu certamente não teria feito nada disso... não se preocupe.
- É, realmente, foi um risco. Mas foi um risco que valeu a pena...
Risinhos dos dois lados.
- Foi arriscado, mas da próxima vez, venha preparado! - disse, em tom de brincadeira com fundinho de verdade.
Próxima vez? Tá bom, então.

Enquanto o experimento que eu começara no domingo acontecia, fiquei revisando artigos, mas com a cabeça longe, longe! Eu "lia" sobre controle de processos de secagem, mas nem os meus pensamentos estavam controláveis. Foco, meu fi'!

Finalzinho da tarde, estávamos o pessoal do laboratório, o Bruno* e eu jogando conversa fora:
- Porque esse aí ama! - disse Bruno*, apontando-me com o queixo.
Gargalhadas a mil.
- E então? Você tem tido contato com ela? - Alê me perguntou.
Só pra fazer graça, deixei o silêncio sepulcral falar por mim por dois segundos. Parada dramática. Contato? Até demais, diria eu. Minha resposta de verdade?
- Uai... - e uma coçadinha na nuca.
Novo estouro de gargalhadas.
- Como assim, "uai"?! Quer dizer então... vocês têm conversado?
- É... 

Vogais são comigo mesmo.

Cheguei em casa, e resolvi dar uma ligadinha. Ops, mensagem às 10h da manhã?
"So queria te falar que gostei mt dessa noite e que pode ficar tranquilo qto ao que me falou agora. Bjim"

Apesar do fail e da pressa? Bom começo, champion!

- Passei em frente ao seu laboratório, mas estava tudo apagado. Você estava lá hoje cedo? - perguntei.
- Não, é que, como eu estou escrevendo, normalmente eu fico em outra sala, do outro lado do corredor.- esclareceu Di. - Fiquei preocupada, você não me respondeu a mensagem.
- Desculpa, só fui ver agora há pouco. Tudo bem, passou. - eu disse. - E então, como foi seu dia?

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A sala onde eu começo os experimentos é de frente à sala mencionada. Hoje cedo, quando eu fui pegar as amostras, passei em frente a sala dela e voltei, dando uma leve pescoçada para trás pra conferir se era aquela mesma. 

- Então é aqui que você fica.
- Entra, entra; pode entrar.

Di então me convidou pra uma festinha que a Tânia* estava organizando, em comemoração à defesa de mestrado dela. Olha só, no final das contas, pode ser que a mensagem seja de verdade mesmo.

No final das contas, eu tô sentindo que tá evoluindo. Quem sabe a gente não oficializa na festinha da Tânia?

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Mais tarde, no clássico intervalo do café da tarde no meu laboratório, alguém trouxe bombons. Justamente quais?
- Não, obrigado. - eu já havia comido umas frutas logo antes.
- "Serenata de amor". - leu Bruno* no embrulho dos bombons. - Se bem que cê nem precisa disso, né? Porque esse aí ama.
De novo? Sacre bleu!
Pior de tudo foi que eu contara, algumas horas antes, que eu havia sido convidado à tal festinha.
- Ah, mas vocês não estão sabendo da maior! - gritou Daniela*, a quem eu havia contado por acaso do convite. E ela revelou o fato.
- Vai veeeeeendo! - Alê, com mais um dos seus bordões...
- Investe na Di, ô! - sugeriu Daniela.

E mais e mais piadas a meu respeito, a nosso respeito.

De repente, Bruno* me solta uma bomba:
- Nada, nada ela deve ser quase 10 anos mais velha que ele. O quê, ele tem 21?
- Vinte e dois - respondi num tom sério e grave.
DEZ ANOS?! Eu sabia que ela era mais velha, mas eu estava chutando no máximo uns cinco.

Tá, dez anos também não é. Enfim, naquela hora, eu me lembrei de uma história antiga, que nem contei aqui. Sobre a Juliana, minha cunhada, já citada aqui no blog, por sinal. Ela é mais velha que meu irmão mais velho, que hoje tem 26 anos, mas namora o Gabriel, um dos gêmeos, 24. Ela deve ter lá seus 27, 28, não sei. Ouvi dela uma conversa assim:
- Se a gente não casar até eu ter uns 30 anos, eu termino!
E me ecoou na cabeça a ameaça da Juliana*, porém vinda de oooutra pessoa num futuro não muito próximo. Desanimei.

Poxa, eu tenho só vinte e dois anos! Por mais rápido que tudo isso tenha sido, não preciso me amarrar desse jeito agora!
Ô, japonês, abre o olho! Quem é que tá falando em casamento agora? Laissez faire, laissez passer, le monde va de lui même. Já diria Montesquieu.
Mas existe o risco.
E daí?! Por causa disso, então, cê só vai "conhecer" pessoas da sua idade? Além do mais, cê nunca conviveu com pessoas da sua idade, todas sempre foram no mínimo um ano mais velhas; o que, aliás, era um caso raríssimo, já que sempre eram mais de dois anos, na média.
Sim, sim, eu sei. Vou deixar o mundo ir por ele mesmo, então.


Liberdade ao mundo pra que eu talvez me prenda. Irônico, não?

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