sábado, 19 de novembro de 2011

Só uma dieta?

Muita gente me criticou no começo, achando que eu estava surtando com essa coisa de ir à nutricionista. E realmente fiquei muito mal com toda essa crítica. Então, resolvi desabafar nesse depoimento longo.

No final de maio desse ano, fui à nutricionista e passei a ela o meu histórico nada favorecedor: ironicamente eu tive problemas de crescimento quando estava com mais ou menos oito anos. Colesterol alto mesmo se eu fosse adulto àquela época. Triglicérides, então! Nem se fala. Lá pela sétima, oitava série, eu usava calça tamanho 52. Mesmo depois de ter conseguido emagrecer bastante sem ter feito grandes esforços, eu ainda não estava satisfeito. De fato, eu fui porque eu queria emagrecer só mais um pouquinho.

Outro fato que eu incluí por acaso no histórico: eu sentia muito sono depois de uma refeição. Sempre achei que aquela preguicinha depois do almoço era normal. Afinal de contas, tem a sesta, né.

Daí ela me explicou em termos leigos o que é resistência à insulina, que me dava essa "preguicinha normal". Principais causas: intervalos muito grandes entre refeições e nutrientes complexos demais pra nosso sistema digestivo. Os principais vilões nessa história: proteína da soja (pois é), glúten, caseína, ou ainda um carboidrato muito simples chamado lactose -- desmamar é justamente parar de produzir lactase, que a "quebra" em glicose e galactose.

Já pararam pra pensar que o homem é o único animal que continua a tomar leite mesmo depois de desmamar? E pior: de outro mamífero? Não é meio nojento se a gente pensar por esse lado?

Cês sempre viram "contém glúten" ou "não contém glúten" nas embalagens e não sabiam do que se tratava, né? É porque tem gente (os celíacos) que, se comer glúten, corre risco de morrer. Vai lá no Wikipedia e pesquisa sobre glúten, pra mais detalhes.

Aliás, só de curiosidade, vai no Google Tradutor e pede pra traduzir "gluten" (sem acento mesmo) do latim pro português. Esse foi o estrago que ele fez em mim.

Não, não é piadinha do Google. E sim, eu espero você se acalmar depois desse susto. Quer um chazinho de camomila, de cidreira?

Daí quando eu falo que estou em restrição de glúten e laticínios, o povo acha que é frescura, que eu não preciso emagrecer mais, que eu deveria tratar da minha anorexia nervosa (!!), que é impossível, que eu deveria desistir, porque tudo tem glúten e leite. Mas se o Djokovic faz uma dieta igualzinha e, depois disso, vira o melhor tenista do mundo, OH ELE É O MÁXIMO. Façavor! Só porque ele é famoso, então ele não pode ser alvo de críticas que nem eu fui?

Não, não tô pedindo elogio nenhum de ninguém, nem tô com inveja dele. Nem tenho coordenação pra jogar tênis! Também não fiz a dieta porque ele fez, nem sabia. Fiquei até feliz por saber disso, aliás. Só faço essa pergunta, indignado, pra que os que (mesmo inconscientemente) me criticaram tão duramente pensem bem se queriam ouvir esse tipo de crítica ou ser desestimulado dessa forma. Só estou buscando um tratamento de saúde, nada mais.

Realmente, pensar que tudo que tenha trigo, aveia, centeio, cevada, malte ou leite esteja banido temporariamente da minha dieta... é muito difícil. Mas é questão de costume, garanto. Dá pra viver sem cerveja, sem chocolate, sem queijo, sem massas e sem laticínios. Tem destilados, tem vinho, tem alfarroba, tem mariola, tem tapioca e tem pão sem farinha de trigo. E principalmente tem fruta, muita fruta. O pior mesmo de se enfrentar é esse... esse... estigma social de ser tachado de neurótico.

Pros engenheiros: já pararam pra pensar na consequência logística pro Brasil que é a gente se entupir de glúten? É bolo, é bolacha, é pão, é tudo. Tudo de farinha de trigo. E o Brasil importa praticamente todo o trigo de que precisa dos hermanos. Enquanto isso, tem arroz (farinha de arroz é um dos substitutos da farinha de trigo) estragando nos silos porque, se não se usarem estoques controladores, o preço despenca. E você aí achando o presidente Vargas um lunático porque queimou toneladas de café, só pra controlar preço. Tsc tsc.

Já vi dados na minha área de pesquisa no mestrado (secagem) que falam que 25% da produção mundial de alimentos é JOGADA FORA! Será que é só porque estraga?

Tem também agricultor familiar parando de plantar mandioca (polvilho é outro substituto) porque soja e cana do latifundiário dá mais dinheiro pro país. Daí o ROCEIRO migra pra cidade e fica desempregado porque não tem qualificação. E apela pra meios ilícitos pra ter o mínimo de dignidade.

Tá bom, viajei. Não quero te deixar com consciência pesada por ter comido uma bolacha. Voltando...

Independentemente da dificuldade enorme (só no começo, ressaltando) que é cortar glúten e laticínios da dieta, nunca me senti tão bem-disposto e nunca mais tive sono depois do almoço, desde que comecei essa restrição. Já fiz exames de sangue e descobri que minhas taxas de glicemia, insulina, triglicérides e colesterol estão todas normais. Saber que estou saudável é de onde sai a minha força de vontade pra manter essa restrição tão complicada.

Só teve uma taxa que deu um pouquinho mais alta que o normal: a do hormônio TSH. Ou seja, acabei descobrindo que tenho hipotireoidismo sub-clínico (Ronaldo!), outra causa dos meus sonos diurnos "normais". Mas estou me medicando, sem neura.

Ter ido à nutricionista não serviu só pra que eu me reeducasse no que diz respeito à alimentação. Serviu pra eu saber que muitas críticas, mesmo que inconscientes, são irrelevantes. Ou seja, serviu pra eu saber separar o joio do... trigo (duh!). Serviu pra que eu soubesse que eu preciso ter muita força e auto-estima pra fazer o que eu acho que seja o melhor pra mim, mesmo que muita gente não concorde.

Ah, só pra constar: estou com 10% de massa gorda, o que é relativamente baixo para não-atletas, e hoje uso calça 40. Mas isso é detalhe.

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