terça-feira, 29 de setembro de 2009

O show da naturalidade da Beyoncé brasileira

Estava eu hoje navegando a toa no Youtube e me deparo com o vídeo das Single Ladies brasileiras, que foi a prova do Lata Velha, no programa do Huck deste sábado.


Levando em conta que eu ainda acabei de voltar da academia, não pude deixar de escrever sobre esse tema, a ditadura da beleza. Sei que é muito cliché, mas sério, eu me senti muito feliz pelas dançarinas amadoras do clipe.
Feliz porque as curvas de Luana, a sósia de Beyoncé, não são nem um pouco parecidas com as da ídola, e nem por isso ela deixou de ter sua sensualidade. Claro, elas ainda dançaram um pouco "travadas", mas elas tiveram somente seis dias de ensaios... E olha o show que elas deram no palco!

Eu vou à academia não só pelas razões óbvias de me exercitar. A outra razão por que eu vou para lá é para rir da ironia do lugar: toda academia tem pelo menos um cara que gosta de aparecer, levantando pesos humanamente impossíveis, com uma postura péssima e muita velocidade. Mais errado, impossível. Normalmente, eles só são muito fortes da cintura pra cima, sendo as pernas tão finas quanto o meu pulso. É evidente que eles não conseguiram a forma física de maneiras naturais. O pior de tudo é que existem pessoas que têm inveja disso.
Não, não tenho um pingo de inveja deles. Antes que vocês me chamem de invejoso, quero falar que meu treino é de condicionamento físico, ou seja, não quero ficar "marombado". Eu não acho que eu ficaria... bem - por assim dizer. Eu só treino para manter a forma de barril. Redonda não deixa de ser uma forma, não é verdade?

Tá, e o que tem a ver a Luana, a Beyoncé brasileira, os marombados da academia e eu?
Elas fizeram uma apresentação maravilhosa, mesmo que não sigam os famigerados padrões de beleza. Os marombados vão na contramão, submetendo-se a tratamentos altamente duvidosos em busca do "corpo perfeito".
Eu sigo o meu conceito de beleza. Aliás, eu acho um paradoxo falar em padrão de beleza - cada pessoa apresenta a sua, não há como se falar em padronização. A beleza está exatamente nas particularidades que formam o conjunto: um olhar poderoso em uma sobrancelha fina, ou um olhar inocente que clama por amor? Lábios carnudos que ocultam o sorriso, ou lábios estreitos que são uma moldura para a obra de arte da demonstração da alegria? Faça as combinações possíveis e terá rostos belíssimos.
Beleza está intimamente ligada à satisfação pessoal. A beleza é a eterna busca pela felicidade. Ser belo é saber irradiar a felicidade. Ser belo é saber cuidar de si com naturalidade. Infelizmente, existe a questão da pressão social que gera insatisfação nas mentes mais "fracas", que até distorce esse conceito. Ser belo é consequência de ser feliz. Não se submeter a fazer inversão - buscar a beleza para ser feliz - é crucial para não se tornar uma pessoa viciada em "padrões", que não existem.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Carpe diem e auto-destruição

Hoje, começou uma das maiores festas universitárias do Brasil, que é sediada aqui na cidade onde eu estudo. Na verdade, é um torneio esportivo, mas disso pouca gente se lembra.
Que raios você está fazendo aí, escrevendo nesse blog maldito, então? Vá lá curtir! Não vou por várias razões. Primeira, tenho que apresentar um seminário amanhã. Segundo, tenho um curso nesse sábado e domingo. Terceiro, que das últimas vezes em que fui, em uma delas eu corri risco de morte, e na outra eu não consegui aproveitar por causa de Clara.
Bom, vamos contar cada história de uma vez, né?
A abertura desse torneio é um trio elétrico que sai da porta de uma das universidades daqui e vai até algum ponto da cidade, pré-estabelecido pelas Atléticas. Há muito tempo, esse trio entrava na minha universidade, mas devido aos atos de vandalismo, a Prefeitura Universitária proibiu por tempo indeterminado a realização dessa festa lá.
A primeira vez que eu fui foi em 2007, no meu segundo ano de faculdade. Eu só passei perrengue nesse dia: servi de base pra um "boneco de Olinda", quase morri pisoteado por má organização da festa, entrei sem convite por causa disso (se eu fosse querer ser honesto, eu não estaria aqui escrevendo, e sim sete palmos debaixo da terra), tive que sair correndo desesperadamente por causa de uma briga que começou do meu lado, era fácil arranjar qualquer tipo de droga (era só fechar os olhos e respirar um pouco mais fundo para fumar maconha "por tabela", por exemplo), dentre outras coisas.
Minha segunda vez foi uma auto-análise. Era muito no começo da história da Clara. Eu já tinha me declarado pra ela, mas ainda restava aquele mínimo de sentimentozinho mixuruca por ela, e daí eu pensei que... enfim, toda vez que um cara chegava nela e eu estivesse perto, ela me olhava de um jeito estranho e dispensava o cara. Não sei até hoje o que significou esse olhar estranho de Clara, e vou morrer sem saber.


Enfim, eu tô aqui pra falar de outra coisa: sobre levar a sério demais essa coisa de carpe diem.
Bom, conforme eu disse, é muito fácil conseguir drogas nessa festa, inclusive drogas "pesadas". Fácil também é ver que algumas pessoas (conforme a gente fala aqui), "queimam a largada" - nem ao menos conseguem chegar no final, de tão bêbadas/drogadas/sei-lá-o-que-mais.
Incrível como existe uma forma de ditadura da felicidade na vida unversitária: beber todas, usar/fumar/cheirar todas, "pegar" todas, colar de todos os nerds babacas e conseguir a mesma coisa que eles no final do curso. Aí sim fala-se em ter aproveitado minha faculdade. Infelizmente eu tenho que afirmar que Carlos*, meu colega de apartamento, é assim: eu sei que ele não gosta do tipo de música que toca nessa festa - pra não falar que ele prefere que deem um tiro na cabeça dele a ele ter que ouvir axé, sertanejo e funk durante uma festa inteira. E mesmo assim, ele quase arranjou uma briga com a namorada dele para ir. Ela, submissa, deixando que seu amor por ele falasse mais que o amor dela por ela mesma, deixou; e ainda por cima não foi, para evitar mais brigas no dia da festa.
Há pessoas que "não sabem brincar". Tudo tem que ser da forma mais intensa possível: prazeres, histórias, afetos. Pena é que nem todas essas sabem direcionar essa "ânsia" de forma saudável. É por isso que eu estou em casa. Não sei brincar de carpe diem como a maioria dos universitários.






*** Só alguns fatos sobre essa festa:
1) Eu acho que ela só não foi proibida ainda (ou seja, a prefeitura da cidade ainda solta alvará para que ela aconteça, apesar da reclamação dos moradores) porque ela movimenta horrores na economia da cidade: compras em supermercados por bebidas e afins, hoteis, restaurantes, transporte, etc. Existe toda uma movimentação "turística" por essa festa.
2) Na semana seguinte, os pedidos para exames de HIV aumentam significativamente nos postos de saúde da cidade.
3) Ou a transmissão dessa reportagem realmente quis ocultar os fatos ou o horário não permitiu que eles fossem mostrados. Alguém pode falar para o(a) repórter que não existe Engenharia de Ondas, tampouco uma Unesp em Mongaguá (0:35)? Deu pra ver o nível etanólico da pessoa, também, né?
4) No outro dia, soube de vários acidentes: uma pessoa caiu no rio em cuja margem o "Corso" passou, outro machucou muito sério o joelho por causa de uma bobeira, etc.
5) Efeitos pós-Tusca comuns são uma rouquidão forte e um cansaço tão grande que chega a irradiar. Não precisei ir muito longe para saber desses efeitos...

Planos para a noite #2 - O menu certo

Segundo texto da série da minha "boa noite", hoje vou falar do cardápio da noite. Não, seus pervertidos, eu estou falando dos preparativos para o que comer. Estou falando em preparar uma refeição, não o que vocês pensaram.
Ah, não adiantou muito, 'tá bom, eu desisto. Vá lendo que é melhor para eu me esclarecer!
Esses preparativos não são para iniciantes na cozinha - um pouco de dotes culinários é pré-requisito.
Ih, aí pegou! 'tá, eu não sou chef profissional, mas também não sou daqueles que têm um extintor de incêndio na cozinha, "só por precaução". Aliás, um homem que sabe cozinhar de verdade deve ser encantador para as mulheres, não é mesmo? Não pelo ato em si, e sim por demonstrar que ele é cuidadoso, que tem a sutileza necessária para apreciar uma boa comida, e que aceita se arriscar - por que não? - para agradar sua beloved one. Quer uma declaração maior que essa?
Sugestões de pratos? Não posso dar, até porque há muitas variáveis que podem interferir na escolha, desde gostos até reações alérgicas. Sites de receitas estão aos montes aí para quem quiser procurar.
Eu me arrisco de vez em quando a fazer umas receitas de internet e todas deram certo até hoje. Minha última foi um mousse de damasco - divino, super fácil de fazer, versão diet/light disponível e impressionantemente barata, pois não usa tanto da fruta seca a ponto de encarecer a receita. Recomendo!
Um dos critérios que eu utilizaria nessa ocasião é a facilidade de preparo. 'Tá, eu vou querer impressionar, mas não preciso preparar "O" banquete, até porque assustaria e daria trabalho que não vale o esforço, a ponto de atrapalhar.
Outro critério importantíssimo é o "efeito de memória" do prato. Efeito de memória? Que diabos é isso? Exemplos de pratos bons para a memória são aqueles que têm como ingredientes alho, cebola, alguns peixes, alguns queijos, cortes de carne muito gordurosos, temperos muito marcantes, etc., e que devem ser evitados, por razões óbvias. Tudo bem que eu quero lembrar o momento a dois, mas não pelo que eu comi!
Escolhido o prato, eu pensaria em uma bebida para acompanhar. Vinhos são clássicos indeléveis e indiscutivelmente a melhor opção. No entanto, não é qualquer vinho com qualquer prato. Não é preciso dar uma de enochato enólogo para saber combinar um prato a um bom vinho. Regrinha básica: tão mais tinto e seco quanto mais vermelho o prato. Entendeu? Exemplifico: carnes brancas com vinhos brancos e suaves, carnes vermelhas e massas com vinho tinto e seco, got it? Na dúvida, eu perguntaria ao vendedor da adega.
Sobremesa é algo complicado de se fazer com maestria. Morangos ao chantili são suficientes para os precavidos. Querendo arriscar, eu buscaria em sites de receita, sempre me lembrando do princípio de descomplicação culinária.
Uma ideia legal seria que os dois preparassem o menu juntos. Uma troca de olhares mais picantes são o tempero ideal para a refeição - e para a noite. Pô, mas ela não sabe nem fazer gelo! Não importa, pelo menos manusear uma faca sem precisar ligar para a emergência médica já está ótimo. Quero que ela se sinta parte do momento; fazer ela ficar olhando, fazendo nada, com certeza não é a melhor maneira para isso.
Velas? Très romantiques, mas eu as guardaria para outra ocasião, quando já formos mais íntimos. Mas uma iluminação mais ... faded cairia bem. Bom, talvez eu reconsidere as velas.
Fato rápido: eu tentaria, com muito esforço, não me mostrar nervoso ou ansioso porque eu quero que dê certo. Passaria a impressão de insegurança. É até para dar o ar da graça se der errado.


Eu sempre me lembro dessa música quando alguma coisa dá errado na cozinha!

Finalmente, colocar a mesa. Toda essa obra de arte é dos dois, e os dois merecem expô-la e admirá-la. Uma boa conversa: sobre nós, sobre coisas simples. Esqueço que existe o mundo lá fora, e tudo se resume aos brilhos nos olhares que se cruzam, nas bocas que se movem em sintonia. Os paladares sentem o sabor depurado do tempero do desejo, principal ingrediente do prato.
O calor do vinho sobe às maçãs do rosto. Um sorriso de menino estampa meu rosto, refletindo meu fogo interior. Meus olhos sedentos escancaram meu desejo de homem. O perfume lancinante da sua nuca atrai irresistivelmente meu corpo ao seu... um abraço por trás, um encontro de bocas tão intenso que não se sabe quando aconteceu.
My stomach is filled with butterflies. My heart beats so close to yours... sincronizados, acelerados, loucos um pelo outro...

Planos para a noite #1 - A música certa

Pensei em preparar uma série de textos sobre o que eu acho que seria uma "boa noite". Não como uma forma de conselho - aliás, quem sou eu para aconselhar qualquer coisa nesse assunto? - mas só para eu tentar me conhecer melhor e - quem sabe - receber críticas e sugestões.
Vou supor que eu já esteja digging on alguém, sem ter um compromisso oficializado. Mas com vontade de tê-lo. Daí, eu prepararia um programa a dois em casa. Não, seus tarados, eu não estaria com tamanha impulsividade, até porque isso assusta qualquer uma. A princípio.
Preparativos? Bom, vou começar pelo mais barato, e que é um dos principais componentes da noite: a música certa.
Vi, há uns meses em um site uma lista de músicas-miojo - aquelas que preparam a refeição em três minutos. Convenhamos, o apelido para essas músicas é de péssimo gosto. Coisa de cafa, daqueles que deixam a mesma playlist preparada para comer mesmo, nem se dando o trabalho de elaborar uma lista com o estilo dele e de sua refeição convidada. Aposto que deve ter: Unchained Melody (tema de Ghost), alguns jazzes de Barry White, Toni Braxton, Marvin Gaye (Sexual healing é clássica!), etc. Melhor já colocar as músicas de motel, oras!
Confesso que é um trabalho árduo. É "só" saber ter bom gosto para escolher a música certa, sem ser piegas ou meloso. É óbvio que isso vai depender do estilo daS pessoaS envolvidaS. No plural mesmo.
Eu dei uma palinha do que eu acho ser uma em um post, relevando o meu estilo e o das mulheres que me atraem: inteligentes e que sejam discretas, sem serem "frescas". Nem precisam ser "arrasa-quarteirão", conforme minha expressão.  Eu tenho direito de exigir pelo menos isso?
Deixo bem claro que aqui são algumas sugestões MINHAS sobre músicas para se ouvir a dois:

Norah Jones, destacando I'll be your baby tonight, já citada (nem preciso falar que é uma das minhas favoritas, right? Já até linkei em um post...), Be my somebody e Little room.
Corinne Bailey Rae (que pena ela ter lançado só um disco), destacando Trouble sleeping, ButterflyLike a star.
Michael Bublé, destaque para Everything (minha favorita de longe!), Wonderful tonight (dueto com Ivan Lins; talvez a versão de Eric Clapton seja mais conhecida), Always on my mind. Pra quem quiser arriscar uns passos de dança de salão, o que não é o meu caso, Save the last dance for me, L-O-V-E e It had better be tonight.
Jack Johnson certamente não ficaria fora da minha lista - Banana Pancakes para a manhã seguinte!Better together, Constellations (adoro), Do you remember (para os casais com mais tempo de convivência), Angel e Same girl são as que eu acho as mais propícias para o momento a dois.

Bom, acho já que foram bastantes exemplos. Tenho várias outras favoritas, mas são melosas demais ou "gritadas" demais (exemplos: Eva Cassidy e Lara Fabian).
Ressalto: são MINHAS músicas para dois. MEU estilo. Muita gente vai achar que não são as melhores, mas eu não queria cair no lugar-comum de citar as mesmas de todo mundo e refletir minha idealização de companhia para essa noite que eu pretendo descrever (sei que não é "bom" fazer isso, mas espero que não me levem a mal).
Minha próxima parada será o supermercado. Sim, claro! Você não ia pedir a mesma pizza gordurosa de sempre, né? A mesma pizza que você pede quando junta os amigos em casa para assistir um filme trash? Pelamordedeus!
Enfim, o cardápio é o assunto em pauta do próximo post.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Voadora

Sei que prometi os textos da noite perfeita, mas antes disso, eu só queria contar mais uma.

Eu estou fazendo uma disciplina de laboratório que é em grupo de seis pessoas, e para todo experimento temos que fazer um relatório. Eu fiquei para fazer a parte final dele. Nosso prazo era ontem. O relatório foi entregue no dia, mas antes disso eu tive que me expor e finalmente reconhecer que meu caso é sério. Explico.

Antes disso, na segunda-feira, véspera do dia de entrega do relatório, tínhamos uma palestra sobre a nova lei de estágio. Porém, não nos foi informada a sala onde ela ocorreria, somente sabíamos que era no departamento do meu curso. Ficamos quase a turma inteira no saguão, aguardando a professora. Mais de vinte minutos de "atraso" e resolvi procurar a professora. Nada.
Até que eu a encontrei já ministrando a palestra em uma sala. Juntamente com, dentre outras pessoas, dois colegas meus. Custava a eles sair e avisar "ó, gente, nós estamos na sala de seminários B"? Mas não, eles tinham que usar do seu egoísmo e monopolizar a informação.
Isso porque toda vaga de estágio que eu acho interessante, toda informação que eu acho relevante, eu repasso para a turma assim que eu saiba dela (inclusive da palestra); remontei o grupo de emails da minha turma para facilitar essa troca de informação, ou seja, faço de tudo para ajudar para receber ISSO?
Expliquei, tentando não olhar para a cara dos meus dois colegas que estavam na sala, que havia um grupo grande do lado de fora que estaria aguardando a palestra, mas ninguém foi informado do local. Daí, a professora se ofereceu para ministrar a palestra novamente.
Minha carótida já estava dolorida, de tanta raiva. E eu ainda tinha que terminar o relatório.
Eu sou muito chato, confesso, quando o assunto é organizar informação em um relatório, coisa que aprendi durante a pesquisa em iniciação científica. Mas eu passei a exigir o mesmo de um relatório didático. E mandei um email para o meu grupo de laboratório praticamente dando uma voadora no pescoço de todo mundo: esse relatório está horrível, ninguém confiou em ninguém e repetiu muita informação, colocou informação onde não devia, informação errada, etc.
Agora eu estou arrependido do email, mais por fazer meus colegas ouvirem tanta ladainha do que por mim mesmo. Mas serviu de lição.
Eu não estou curado.

sábado, 19 de setembro de 2009

[oFF] Motivo da minha ausência no blog

Não estarei postando por motivos de saúde.
Tudo por causa de uma ducha fria e do meu jeito não-quero-atrapalhar. Fui a São Paulo para um processo seletivo de estágio, e fiquei hospedado na casa do tio de uma amiga, onde havia daqueles chuveiros com misturadores de água quente e fria.
Mas só tinha fria.
Agora, eu estou tomando tanto remédio que eu tenho que "preparar" meu estômago pra medicação - antes do monte de comprimidos, eu tenho que tomar omeprazol.
Já deixo adiantado que eu estou preparando uma série de textos sobre o que eu acho que seria uma noite perfeita.
Enquanto isso, deixem que eu me esgote nos lenços de papel. Que nojo...

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

L'hommage à l'amie

Não há data certa para o começo de uma amizade, ao contrário de alguns casais que celebram as datas do primeiro beijo, do pedido oficial, da primeira vez... A única coisa de que me lembro é de estudarmos desde os tempos da escola, e de reencontrarmos no fim do colegial, intensificando nossa amizade ao limiar da falta de respeito - existe coisa mais devastadora que a intimidade?
Quanto nós rimos juntos? Nossa, perdi a conta. Rir dos surtos cômicos dos professores, rir das pessoas na rua, rir dos colegas, rir - principalmente - de mim mesmo e dela mesma... Era a expressão máxima - no volume inclusive - da nossa união e da nossa cumplicidade.
Ouvi muito chororô, fui ombro amigo, peito aberto. Capacho emocional? Não... eu digo que foi exatamente por ter essa amizade é que hoje eu sou o que sou - defeitos inclusos (no bom sentido). Não, não estou reclamando - agora sim, eu olho para trás e vejo o quanto "a crise de hoje é a piada de amanhã":
Se sou tímido demais, era por me sentir constrangido pelas vezes em que eu era o motivo da piada. Agora eu vejo a falta de tolerância do meu constrangimento, e enxergo a habilidade de ser o motivo da piada e, ao mesmo tempo, rir dela.
Se tento ser um romântico, é porque eu sempre ouvia sua opinião feminina, tentando ser o que eu achava que poderia ser melhor para as possíveis vítimas que morariam aqui nesse bobo do lado esquerdo.
Se, por me esculpir um romântico enrustido, eu sou um fracasso na vida amorosa, ela estava, está e estará lá para me ouvir sempre, e elogiar a intensidade dos meus sentimentos, e da capacidade de expressá-los em textos.
Se nossa amizade estava "balançada" por qualquer coisa que fosse, estávamos lá para a discutirmos - sim, já tive lá minhas DRs! - e hoje estamos onde estamos: eu, escrevendo sobre nós agora; ela, sabendo de várias histórias minhas...
Se hoje eu estou aqui, dedicando um post exclusivamente a ela, na data de seu aniversário, em um dia atarefadíssimo, tendo que pensar em uma viagem que vou fazer amanhã, é porque ela faz parte da minha vida.

Mais que amizade, eu vos digo: eu a amo. E tenho certeza de que ela não me interpretará mal.
Se sou o que sou hoje, eu devo tudo isso a ela.
Obrigado por tudo.

domingo, 13 de setembro de 2009

Chumbo trocado não dói, já dizia minha vó

Dois posts neste domingo por dois motivos: falta do que fazer hoje e excesso do que fazer amanhã.
Juntamente com a história de Clara, que contei bem resumidamente, aconteceu outra história, igualmente resumida nesse post. Na verdade, acho que as duas histórias se misturaram, mesmo que Clara nem ao menos saiba quem seja Fabiane*.
- Tem uma amiga minha que disse que quer te conhecer - disse meu irmão Gabriel, quando estávamos em casa, em um final de semana que voltei para minha cidade natal.
Fabiane também fez parte dos meus textos que joguei fora. Conforme eu lembro de ter escrito, eu tive três sensações ao mesmo tempo em reação ao meu irmão. A primeira foi uma incompreensão: como alguém pode querer conhecer alguém "quadrado" que nem eu? A segunda, uma vontade de falar para ele parar de fazer graça - não é porque eu estou encalhado solteiro que você pode jogar isso na minha cara. A terceira, claro, foi aquela acariciada no ego.
Nosso primeiro contato foi via Orkut e MSN. Fabiane sempre lançava aquelas indiretas mór, praticamente se jogando pro meu lado. Fato: isso assusta qualquer homem, por mais "moderninho" que ele seja. E logo pra mim, que não sou nem um pouco.
E eu tentanto ser bonzinho, só dava um sorriso amarelo :D em resposta via MSN. O que eu faria, se nós só conversávamos pela internet, e no momento minha cabeça estava pensando em Clara?
Sem querer, ela soube, por mim, do meu número do celular. Ela me mandou algumas SMS nesse meio-tempo, e sempre com o mesmo teor.
Eu não aguentava essa vida dupla. É até engraçado isso, um triângulo amoroso que nunca aconteceu de fato.
- Fá, chega! - finalmente falei.
Desembestei a falar que eu estava passando por um momento ruim (e realmente o estava, não só por causa de Clara, mas também por vários outros motivos), e que eu não era o melhor tipo de pessoa para me relacionar, por eu ser quadrado demais.
Não adiantou. Dei sumiço no Orkut, no MSN, e tudo mais. SMS eram comuns. Na última mensagem que recebi, eu lembro de ela ter escrito algo como "mesmo que esteja incomodando". Ou seja, ela queria um ultimato meu.
Ah, é? Então é guerra. E fiz a maior cagada da minha vida amorosa que nunca existiu: mostrei meus textos para ela, pois era uma maneira rápida de dizer tudo que eu passei.
- Era isso que eu queria saber - ela disse, talvez em prantos. Não sei; foi por MSN.
Algum tempo depois, eu soube, sem querer (Gabriel tinha que soltar a pérola perto de mim, enquanto conversava com um amigo e eu estava perto), que ela estava viajando na casa do namorado.
Pô, façamos as contas: quanto tempo demoraria para um relacionamento chegar ao ponto de "viajar para a casa do namorado"? E faz quanto tempo desde que eu mandei os textos para ela?
Ah, tá. Então ela só queria um ultimato meu porque o triângulo na verdade era um quadrilátero.
Parabéns pelo troco muito bem-dado, Fabiane. Desculpe se te fiz algum mal, se brinquei com seus sentimentos por acidente, não tive intenção. Seja feliz com o seu amado. Eis aqui um peito indiferente e feliz por você.

sábado, 12 de setembro de 2009

A(hu)mor próprio

Fui ao teatro ontem. A peça foi baseada em um personagem de um livro que ganhei de presente por acaso em um "amigo secreto": um psicanalista nada ortodoxo, cuja recepcionista também não é. Talvez seja daí que tenha vindo meu preconceito com a situação do paciente que se submete à psicanálise.
- Nossa, tão jovem e já fazendo terapia? - perguntou uma mulher com um vestido que poderia ter saído de uma novela de época. Loira, olhos azuis, boca com um batom daquele tom vermelho exato entre a sutileza e a sensualidade.
Eu ri da surpresa: os próprios atores estavam recolhendo os ingressos à entrada do teatro, como se ela fosse a recepcionista do analista e os espectadores, os analisados. Ri também da coincidência da situação - eu não poderia estar fazendo terapia por ser jovem?
- Boa terapia! - desejou a atriz.
O tipo de humor da peça foi cliché: uma sessão de piadas dos tipos mais consagrados nas piadas de boteco. Português, loira, bicha, casamento tedioso, etc. A tentativa de refinar o humor foi umas pitadas de conhecimentos globorreportenses sobre o funcionamento do cérebro na situação do humor. Ou seja, um blablablá que qualquer pessoa que pudesse ter acesso um pouco mais de informação saberia procurar e achar.
'tá, eu gostei da peça, ri bastante, mesmo que algumas das piadas dele serem antigas até para mim, que nem sou tão bom piadista.
Ri inclusive de mim mesmo, pois um dos personagens era um homem de 25 anos que ainda era virgem e homossexual não-assumido. Não, não sou homossexual, mas o fato é que a virgindade masculina hoje é tão tabu quanto a feminina no passado. Não é? Ora, ora... se isso não fosse tabu, eu não estaria aqui, escrevendo!
A outra personagem - a do vestido de época, que recolheu meu ingresso - supreendeu a todos quando quando atacou de mulher sedutora. Outro momento em que ri de mim mesmo - como é fácil prender a atenção de um homem, intensamente estimulado pela visão de um belo par de peitos em uma lingerie preta bordada, só mostrada depois de tirada uma camisola vermelha fatal.
Foi esse o principal motivo de eu ter gostado da peça: fazer com que eu ria de mim mesmo. Rir de si mesmo é um humor crítico, uma forma de reconhecer falhas sem que se sinta mal por isso - pelo contrário.
Eu, um romântico enrustido (acabei de criar esse nome ou ele já existia?). 'tá aí, descobri duas palavras que me definem...
Imagine-se com "aquela pessoa", com essa música de fundo, uma noite de chuva fina, a luz amarelada de uma vela...

Pronto, fiz minha única sessão de terapia. E descobri o que sou de verdade. Agora, só falta que "ela" (quem?) descubra quem sou.

O dia da caça

Ontem, eu fui a uma festa. Fiquei sabendo dela um pouco em cima da hora, e o atraso foi compensado no preço do convite.
Algumas horas antes, uma dor de cabeça e uma tontura arrebatadoras me atingiram.
- 'Tá tudo bem, Gringo? - perguntou meu colega de apartamento Carlos*, quando me viu saindo do banho, cambaleando perto da porta.
- Mais ou menos - e expliquei o motivo da minha instabilidade.
Ele me entregou, então, uma cartela de comprimidos de dipirona. Tomei logo dois e fui deitar, para ver se as pulsações atrás dos olhos passavam.
Já não estava in the mood para ir mesmo, agora eu tenho um motivo para não ir, pensei.
Passou.
Só fui porque paguei caro no ingresso. Estava indo com algumas pessoas com as quais não tenho aquela amizade, e éramos eu e Carlos de XY no grupo. Um mega-grupo de amigas não são lá a melhor companhia para uma balada...
Várias loiras lindas, morenas idem... ali, havia mais mulheres que homens, com certeza.
Time to hunt. Nenhuma delas foi tragada por meus olhos puxados e meu sorriso torto. A única hora em que eu me aproximei mais foi quando fui ao bar, e estava ao lado de uma loira arrasa-quarteirão. Eu nem estava com segundas intenções, se bem que seu vestido preto era bem convidativo... Mas tinha que existir, como sempre, o bêbado para fazer a cagada do dia e cair do meu lado, me empurrando e fazendo-me como peça de dominó em cima da loira.
- Ei, não precisa empurrar! - esbravejou, olhando para mim.
Eu franzi a testa e apontei com a cabeça para o bêbado caído, querendo dizer que não fora culpa minha. Ela respondeu empinando o nariz, resmungando qualquer coisa, pegando sua bebida e se misturando à pista de dança. Esnobe? Eu passo...
Hoje cedo (não exatamente cedo, mas pouco depois que ele acordou, ou seja, três da tarde), Carlos fez uma retórica:
- E aí, curtiu a festa ontem?
- Muito boa, né? - menti.
Não fosse o fato de ter tocado um pouco de música eletrônica e ter sido open bar de bebidas muito boas, eu estaria arrependido do dinheiro que eu gastei na festa.
Fechei a festa no zero a zero. Já se disse nesse blog sobre ser melhor lembrar do momento com uma pessoa do que ter várias "peguetes" e amnésia alcoólica. Se minha hora não chegou, c'est la vie.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Sou mais eu!

Eu falei sobre errar no tato no último texto. E eis que eu acabei por cair na minha última história memorável até o momento.
Em 2008, eu comecei a estudar francês, e Clara*, minha amiga e caloura, já havia estudado a língua. Eu pedi ajuda a ela para fazer um trabalho: uma espécie de seminário sobre três regiões da França. Tudo em francês, óbvio.
Nesse mesmo ano, eu presidi a organização de uma semana acadêmica, e Clara era uma das pessoas que estavam na organização. Durante o evento, eu deixara claro que não organizaria a próxima edição dessa semana, pois eu não teria tempo para isso. Eu me preocupei bastante com a minha "equipe", pois eles organizariam essa semana enquanto estivessem no terceiro ano, o mais difícil do meu curso. É muita sobrecarga. Eu a senti na pele, e não queria que eles sentissem o mesmo.
Eu achei que a pessoa mais indicada para presidir a próxima Semana seria ela, pois era a que menos estava com atividades fora do curso, e que ela poderia muito bem conduzir a equipe.
Mas eu tive um sonho.
Nesse sonho, ou melhor, pesadelo, eu estava em um hospital, não como paciente, mas como acompanhante de uma enferma (sim, ela) com uma crise de pressão baixa seguida por uma parada cardíaca. Acordei com o bipe do monitor cardíaco latejando na minha cabeça.
Eu estava MUITO preocupado com ela. 'tá bom, eu confesso que eu tinha uma "quedinha" por ela, depois de ver que tínhamos muita coisa em comum, e que la langue française fait mon coeur battre plus fort...
Resolvi (tentar) falar com Clara. Eu não consegui falar com clareza, muitos pensamentos pipocavam ao mesmo tempo. Mas eu disse que eu estava muito preocupado, por causa do estresse de se organizar uma semana daquele porte; e falei que eu achava que, apesar de tudo, ela tinha que presidir a organização.
Até que eu me expus a ela. Tentei beijá-la. Inutilmente. "Nós somos amigos". A clássica resposta. Em inglês, até virou sigla: LBJF (let's be just friends).
Eu tentei reconstruir nossa amizade durante quase um ano, fazendo-me sofrer muito. Eu fiz um esforço muito grande para não me anular, mas por dentro eu estava em cacos.
Conversei com outras pessoas, para saber o que elas achavam. Disseram que eu agi certo, mas que eu tinha que investir mais.
Depois do meu segundo "fora" e de um texto-diário com 17 páginas (sim, meu hábito de escrever não é novo) contando o que se passava entre nós, das minhas expectativas, dos nossos encontros, eu resolvi cuidar mais de mim: apaguei os textos do meu computador, rasguei a versão impressa e joguei no lixo. Praticamente um ritual de descarrego.
Chega. Eu caí na zona da amizade, et c'est tout. Não tem volta.
Eu realmente queria que tivesse dado certo. Eu acho que posso ser uma boa companhia, um bom namorado. Mas eu não vou me submeter à humilhação. Love by grace não.



terça-feira, 8 de setembro de 2009

Uma nem tão curta sobre minha bevidade

Em 2007, fui a um "congresso" em Curitiba. As aspas são de sentido fortemente irônico, pois os organizadores, estudantes nem um pouco preocupados com o tecnicismo de um congresso, realizam esse evento que se resume a uma festa que dura sete dias. De fato, existem os cursos e palestras, mas são poucos os foliões (ops, congressistas!) que assistem a eles. Mesmo sabendo disso e sabendo que eu não me sentiria à vontade, fui.
Em uma das festas, um conhecido me parou na festa. "Como que você não chegou naquela menina lá, do seu lado? Ela estava te dando o maior mole!", ele disse. "Hã?" foi a única coisa que consegui pronunciar.
E eis que essa pessoa, em um tom sério, me questiona se sou gay. Disse para eu não me preocupar, porque sempre tem gente "assim" com quem eu possa "conversar" naqueles lugares (tente imaginar o tom mais irônico ever! Pois é, foi mais irônico que isso).
Não, não achei ruim de ele perguntar isso. Não, não sou gay. Só acho que essa situação foi consequência da minha falta de... feeling pra coisa, digamos. E, por ninguém nunca ter me visto com pessoa alguma, seja XX ou XY, todos preferem pensar pelo mais burlesco. Não o culpo por isso.
Mudando de assunto, mas nem tanto:
Havia raras pessoas nos mini-cursos, eu inclusive. Em uma das sessões do mini-curso, eu não estava suportando ficar acordado, e resolvi tirar um cochilo de 10 minutos que fossem.
De repente, eu levo um tapa fortíssimo na cabeça. "No intervalo eu te explico", cochichou. Consenti em silêncio e continuei a prestar atenção no curso.
"Tu 'estava' fazendo um barulho enquanto dormia, e fiquei com medo de que o professor ouvisse.", explicou-me.
Foi o sono mais estranho que eu tive na minha vida. Eu tenho certeza que eu estava escutando o que o ministrante falava, com clareza. Mas eu estava RONCANDO! Como?
Conversei então, com a esbofeteadora gaúcha, como pude perceber pelo sotaque e pela cuia de chimarrão, sempre à mão. Amanda* até me ofereceu o chimarrão, mas eu brinquei, falando que era melhor eu tomar café, para me acordar, e agradeci. Era uma pessoa muito agradável, nossa conversa no intervalo do curso fluía bem. Não era uma beldade arrasa-quarteirão, mas também não era nenhuma espanta-tubarão.
Enfim, encontrei Amanda na fila para entrar em uma das festas, se não me engano era a penúltima. Nós conversamos mais um pouco. Depois de um tempo, ainda na fila, ela apoiou seu braço no meu ombro. Usando o outro braço, era fácil de ela me abraçar.
Entramos.
Eu, mais nervoso que noivo no altar, não soube o que fazer. Pessoas, levem em conta a minha "bevidade", a minha caipirice e uma péssima auto-estima; que, juntas, não poderiam associar o tapa na cabeça, a conversa no intervalo do curso, o braço sobre meu ombro, com qualquer potencialidade. Não ficamos. Tudo porque eu não soube interpretar os sinais.


Descobri tarde demais quem era a pessoa sobre a qual me disseram no outro dia.


A minha maior lição desse congresso? Não foi sobre a indústria do silício metalúrgico ou sobre six-sigma, tema do curso que Amanda e eu participamos. A maior lição desse congresso foi: existem mulheres que podem, sim, querer ficar com um ex-obeso, que foi jocosamente chamdo de Japança no colégio (junção da minha ascendência e do meu porte físico àquela época); cicatrizado por estrias no corpo todo, por consequência da perda muito rápida de peso; um quê de nerd, talvez. Desde que haja uma sintonia natural entre as partes.


Ainda estou na condição da bevidade. Nem por isso eu não "gostei" de alguém. Não deu certo em nenhuma das vezes, pois, nas raras vezes em que resolvi pôr as cartas na mesa, eu errei no tato, e perdi a oportunidade.
Desde meus tempos verdes, achava e ainda acho que é muito vazia essa coisa de ficar com alguém e nem ao menos lembrar o nome dela no outro dia. Não seria muito melhor se eu me lembrasse da intensidade, da pele, do fogo interior? Não quero só contar mais uma pessoa na lista das peguetes.
Eu quero alguém pra lembrar a vida toda, mesmo que não seja para durar para sempre.

domingo, 6 de setembro de 2009

Reconhecimento

Resolvi começar esse diário hoje por ser uma das maneiras com as quais eu posso conversar comigo mesmo. Sim, pois não acho que algumas pessoas, pra não falar a maioria, entenderiam o que me motiva a começá-lo.
Hoje, eu dirigi pela primeira vez após eu ter conseguido a habilitação. Carro do meu irmão Gabriel*: um Citroën C3, motor 1.6, direção elétrica, e tudo mais. Só pra comparar: para fazer as aulas na auto-escola, eu usei um Fiat Palio 1.0, direção mecânica, e nada mais.
Eu estava indo ao supermercado com meus pais. No caminho até lá, tem um morro que acho que era mais fácil falar em escalar o morro do que subir. Precisei reduzir a marcha para ganhar torque. Claro que isso tinha que dar errado. Os giros do carro foram a assustadores 6000 rpm. E nada de o carro ganhar “força”. Tudo porque eu errei uma pisada de pedal.
Na volta, deixei o carro desligar quatro vezes. Seguidas. No semáforo. Num cruzamento com uma avenida. Eu já estava mentalmente rogando pragas àquela embreagem baixa.
– Você tem que deixar de ser menos estressado, não só no trânsito – disse minha mãe.
Todo mundo, grupo no qual eu me incluo, ODEIA com todas as forças que alguém fique falando enquanto se dirige. Agora junte o fato de ser estréia da minha CNH. Ingrata a hora em que eu falei pro meu pai que eu dirigiria.
– Mãe, deixa eu dirigir do meu jeito, por favor – eu disse, tentando soar gentil.
Chegando em casa, deixando o carro desligar mais uma vez, claro, minha vontade era de rasgar a minha CNH em mil pedaços e atear fogo nas últimas migalhas que sobrassem dela.
Nunca me fez falta ter um carro, já que “tenho cinco motoristas a minha disposição”, como já diria o sarcasmo sempre à ponta da língua de Paulo*, meu irmão mais velho. Outro motivo é esse: não que eu seja um ecochato, mas eu sempre vou à universidade de ônibus, a pé ao supermercado, etc. Não faz sentido eu ter um carro. Não é uma necessidade, e sim um gasto que, agora, não vale a comodidade.
Agora junte essa péssima experiência.
Eu não quero dirigir mais.
'Tá, e o que tem a ver o fato de eu ser um péssimo motorista habilitado com o que me motiva a escrever?
Depois de não ter satisfeito meu desejo piromaníaco para com a minha CNH (para a felicidade do leitor), eu desatei a chorar isolado no quarto pela minha imprestabilidade, questionando minhas qualidades segundo pessoas ao meu redor dizem: inteligência? Ah, informação está à disposição a todos, resta que elas se disponham a obtê-la. Gentileza? Não mais do que minha obrigação. Prestatividade? Tudo o que eu tenho sentido são as solas dos sapatos dos folgados.
Isso explica a minha situação de “bevidade” (não esqueci o “r”) aos 20 anos: sou bonzinho demais.
Tudo se encaixa tão perfeitamente para os outros, mas por que não para mim? Não sei dirigir, mesmo sendo habilitado. Não sei me relacionar com segundas intenções com pessoa alguma. Não enxergo reconhecimento pelo que eu faço nem para mim, nem para os outros. Compensa ser assim?
Compensa viver assim?
Mente de pessoa deprimida é complicada. Pessoas normais com certeza diriam “isso é uma bichONA".
Deprimida? Sim, levou-me tanto tempo para reconhecer a minha doença. Nunca ficou tão claro quanto agora.
Antes, eu julgava ser muita fraqueza de espírito gastar dinheiro com psicoterapia, pois eu tinha um preconceito muito grande contra a profissão do psicanalista: uma pessoa que se julga acima do céu e da terra e que fica lá, resolvendo sudôku na prancheta e cronometrando o tempo da sua sessão, porque a sala de espera está “cheia de gente louca”, enquanto você se lamuria, rebaixado à posição do divã.
Eu sempre tentava, sem sucesso, lutar contra esse problema. Resolvia vez ou outra, mas alguns dias depois, lá estava eu, de novo, down.
O que eu tenho a perder, não é mesmo?