domingo, 2 de maio de 2010

O novo Gringo #3: O reciclo pós-reator químico

Sempre fiquei meio down quando eu ouvia meus colegas contando dos estágios deles nas empresas. E eu, por birra, não quis fazer estágio em indústria.
Agora sim eu entendo que, ao contrário do que eu pensava, devia me orgulhar - e muito! - da minha escolha.

Sorry, minha vez de ser técnico na minha área.
Todo processo químico se baseia em 3 etapas básicas: preparo de matéria-prima, reação química e separação de produtos. Nessa última etapa, ocorre a separação de matéria-prima que não pôde ser aproveitada numa primeira etapa e, por isso, volta ao processo. Isso garante que as conversões sejam mais altas e que não haja desperdício de material.
Sou a matéria-prima que retorna ao reator para aumentar a conversão final. Sou o aluno que retorna aos estudos, para o processo de formação de novos engenheiros tenha maior qualidade.

Nunca mais vou ficar down ao pensar que não fui pra indústria. E ainda vou dar risada interna de quem se ilude com o trabalho na indústria, se sentindo "o" engenheiro fodástico.
Se ele é um produto final, eu sou o reciclo que garantiu a alta conversão final. Coitados, vivendo a alegria da inocência.

Ha. Ha. Ha.

O novo Gringo #2: Pump it!

- Ô, Gringo, acho que daqui uns dias eu vou trocar seu treino - Alex*, o treinador da academia, me falava. Cara gigante, mesmo comparando com meus 1,85 m. - Desde que você entrou aqui, você já emagreceu muito.
- Sim, eu percebi isso. Mas era essa a minha intenção. Só tenho achado estranho é que eu voltei a pesar 90 kg desde janeiro, mesmo que meu treino seja misto. - divaguei.
- É, massa muscular magra "pesa mais" que gordura. Normal.
- Entendi. - de fato, eu sabia que engordado eu não tinha. - Mas o que você sugere?
- Acho que você devia fazer um treino de hipertrofia para começar a "encher" esse corpo aí.
Não!
Conforme eu já disse, não estou nem um pouco interessado em virar um marombado. Pô, eu sou um nerd qui parle françaisque faz mestrado em engenharia e que frequenta aula de dança de salão! Isso realmente foge dos padrões, non?
Ninguém nunca viu um marombado dançando tango. Falaverdade, você também riu de imaginar a cena!

- Ah, tudo bem. Vou ter que fazer testes de carga, né? - concordei, mesmo não querendo. Não vou tentar convencer uma vítima do complexo de Adônis do contrário.
Pra que eu não vire um tórax e bíceps explodindo na camiseta, c'est simple: só eu não me suplementar com hiperproteicos ou hipercalóricos e o Alex não ficar sabendo disso, oras. De onde o corpo vai tirar "matéria-prima" se eu não fornecer?
Esse foi fácil de enganar.

O novo Gringo #1: Dança de salão

- Não te imaginava fazendo isso, Gringo - Marina* se surpreendeu, dizendo com seu jeito tímido. Parecia tão surpresa que eu achei que ela estava me repreendendo.
- Na verdade, eu sempre quis fazer, mas nunca me surgia a chance. Estou adorando a experiência. Recomendo!

Comecei a frequentar aulas de dança de salão. Marina não foi a única a estranhar o fato. Meu jeito sério e fechado não "bate" com o estereótipo de quem gosta de dança de salão.
Sweet illusion é pensar que se vai a aulas de dança de salão para aprender a dançar. São tantas as coisas que se aprende com a dança de salão que o ato de dançar em si é secundário. Quer ver?

Primeiro, o óbvio. Condução dos passos: o homem é quem conduz a dança. Consequentemente, há todo um desenvolvimento de auto-confiança, de segurança.
Diz minha parceira de dança, a Paula*, que dá pra perceber a personalidade da pessoa só de sentir a condução do parceiro. Há homens que não conduzem com tanta "força", o que mostra um pouco de insegurança. O oposto também diz algo desagradável: pode denotar autoritarismo.
Isso não se restringe só aos homens. Por exemplo, eu, com míseras quatro aulas de dança, já percebi que há mulheres que gostam de ser conduzidas com os olhos e não com o toque. A Simone*, uma das alunas, é das que gostam de trocar olhares. Pudera, com olhos esmeralda iguais ao dela! A Paula, por outro lado, quase que conduz o parceiro, o que me deixa um pouco confuso: ela está tentanto prever os passos ou eu estou conduzindo pouco? Ela é precavida e tenta contornar todas as situações, ou sou eu, que estou alheio às suas vontades? Daí eu fico com "medo" de por força demais na condução e parecer "machón" demais.

Segundo, postura. É horroroso (e eu percebi isso na segunda aula) dançar olhando para os pés, com medo de dar ou levar um pisão no pé. Cadê a troca de olhares, cadê a sintonia entre o casal? E, de novo: postura exala auto-confiança. Mesmo se ela for desagradavelmente excessiva.

Postura! Exatamente! Perfeito!

Não é uma ótima maneira não-verbal para conhecer um ao outro?

Quer coisa que se encaixaria melhor ao meu tact avec les femmes que dança de salão? Como assim, Marina, "não me imaginava fazendo isso"?

Eu, perdido na aula.