sábado, 21 de novembro de 2009

Será? [2]

Bom, eis a segunda parte do post, o tal plus a mais. Tão plus que está bem grande o texto. Sorry de novo.
A terceira festa que as comissões de formatura organizaram foi uma festa junina. Foi muito boa (deixei a barba crescer e fui a caráter, muito engraçado!). Mas deu MUITO trabalho. Muito mesmo: eu quase surtei depois de trabalhar quatro horas incessantes no caixa. Eu precisava parar de fazer conta de cabeça em segundos.
Por causa disso, eu precisava de alguma coisa que eu me mexesse e não pensasse. Troquei então com a Marina, que estava no correio elegante. Claro, eu ficava andando, e por isso, eu via tudo o que estava acontecendo na festa.
Pena que esse "tudo" passou um pouquinho do limite.
Letícia*, da minha comissão de formatura, estava no bar, servindo e bebendo feito louca, o que fazia não dar tempo para ela ficar com o Flávio*, seu namorado, que estava com vários amigos.
Por sinal, o Flávio é a mesma pessoa deste dia, ou seja, já não tenho motivo para ter um pingo de afinidade com ele.
Enfim, Flávio estava mandando vários correios-elegantes em pseudônimo para seus amigos, de brincadeira. Numa dessas andanças, eu estava entregando dois cartões ao mesmo tempo, mas eu tinha só uma caneta. Emprestei uma para ele e fui atrás de outra pessoa, que estava usando uma caneta própria. Peguei o coração de papel com a outra pessoa e fui andando em direção ao Flávio.
Chegando perto dele, seu amigo Lucas* parou na minha frente:
-- Cadê o Flávio? Eu preciso da caneta que eu emprestei...
-- Já já ele entrega -- respondeu. Por um momento, não entendi essa atitude dele, mas quando olhei para o lado...
Flávio estava na pegação forte com outra menina.

Fiquei pálido, paralisado. Choqué. Corri ao caixa, pois era o único lugar em que eu pudesse ouvir meu pensamento.
Lá estava Alice.
-- O que foi, Gringo? Tá estranho...
-- Alice... desculpa... -- eu estou arfando? -- é que eu vi uma coisa... o namorado da Letícia... tava com uma menina...
-- Sério? -- o choque era irradiante no rosto da Alice. -- Nossa, Gringo... espera, senta aqui, acalma...

Depois que eu consegui respirar normalmente:
-- Então, Alice... agora eu não sei se eu conto pra ela. Eu não tenho aquela amizade com a Letícia, mas é muita cara de pau dele abusar do fato de nós estarmos aqui trabalhando feito loucos pra trair a Letícia! Ainda mais assim, na frente de todo mundo! Se fosse para fazer coisa errada, que fizesse a coisa errada de um jeito "certo", oras! Fosse pra um canto que ninguém os visse, e faziam o que quisessem lá! -- senti pulsadas de sangue na cabeça.
-- Ai, Gringo, nem sei o que te dizer...
-- Posso ficar aqui um pouco? Preciso esfriar a cabeça.

Pena que tempo para esfriar a cabeça era uma raridade.
Logo depois, eu tive que trocar de lugar: virei o pipoqueiro da festa. Flávio veio ao meu lado. Ah, lá vem ele...
-- Muito bom, Gringo, a festa tá muito boa! Vocês só não esperavam que fosse bombar desse jeito, não é verdade? -- conversa de elevador? Eu dispenso...
Respirei fundo, troquei minha expressão no rosto por um sorriso satisfeito e disse:
-- Pois é! Olha só essa mesa: eu fiz quatro bolos, fora os outros que as meninas fizeram! Tinha muito doce, paçoquinha e duzentos e cinquenta cachorros-quentes aqui, e tudo isso acabou com menos de duas horas de festa! Agora só tem pipoca e cerveja... e já saímos para comprar cerveja pelo menos umas duas vezes.
-- Fora o trabalho que dá, né? Aí, cara -- e ele apontou para a escala de horários da comissão, que estava colada na parede --, a Lê tá em todos os horários, trabalhando... nem dá pra eu curtir minha namorada!
Se bem que você não deixou de curtir outras meninas, não é? Calma, respira, breathe in...
-- Mas todos nós estamos em todos os horários, só estamos trocando de lugar de tempos em tempos. Repara bem...
Que cara hipócrita! Quem ele quer enganar? A mim?
O bar ficava em frente à barraquinha das comidas, de modo que eu via a Letícia. Sua embriaguez era evidente. Um dos nossos "clientes" estava próximo demais dela. Eu percebi que ele estava com second intentions, mas deixei quieto. Mais perto, mais perto e ele rouba um beijo dela.
Barraco geral. Flávio não estava perto, mas Letícia estava putíssima muito brava com o cara, querendo sair no tapa com ele. Um dos amigos do Flávio (que viu as duas cenas, tanto a da Letícia quanto a do Flávio) segurou a Letícia antes que ela batesse no cara, e o ladrão saiu correndo, com um sorriso malandro entortando sua expressão "olha-como-sou-fodão".
Meu Deus, quem é mais hipócrita aqui? O Flávio ou o amigo dele, que sabia da "outra" e segurou a Letícia? E eu quieto, no meu canto, controlando meus nervos.

Cheguei em casa cedo, como mamãe pediu. Cinco da manhã.
Às 8h da manhã (pois é, nem sei onde arranjei forças), eu tinha aula prática no laboratório, em dupla. Eu não poderia faltar, pois não há aula de reposição sem justificativa, e "festa junina" com certeza não está nas lista dessas justificativas.
Minha dupla é a melhor amiga da Letícia, e percebeu meus nervos à flor da pele quando eu quase arruinei o experimento várias vezes.
-- Gringo, está tudo bem?
-- Desculpe, Dani*. Realmente, eu não estou bem.
-- O que foi?
-- E-e-eu te conto no final da aula, por favor.
-- Tudo bem... que coisa.... -- e continuamos a fazer o experimento.

-- Nem sei se eu devia estar te contando isso, Dani, mas -- as palavras relutaram em sair da minha garganta -- eu vi o Flávio ficando com outra menina na festa ontem.
Claro, Dani me olhou com a maior cara de espanto.
-- Tem certeza que era ele, Gringo?
-- Tenho -- minhas mãos já estavam tremendo, geladas, e minha visão estava turva de lágrimas.

Depois de uma longa conversa com a Dani, eu fui para casa, almocei muito mal e fui à aula de francês. Preciso me distrair, e essa aula vai me ajudar.
Meu celular toca. Não conheço o número, mas atendi no intervalo.
-- E aí, Gringo? -- Flávio.
Associei toda a história por trás da minha distração: Dani e as outras amigas da Lê conversaram entre si, para resolver o que contariam para ela. Resolveram contar para ela, ocultando a identidade da testemunha ocular. Letícia, desesperada, precisa saber quem é essa testemunha. Suas amigas, com muito pesar, soltam a informação, entregue por Letícia com bandeja e lacinho para seu namorado, que a convenceu facilmente que eu era o mentiroso da história. Os pombinhos traidores terminaram juntos e eu, possivelmente, não saio vivo dessa.
Ele tentou conversar pacificamente comigo, perguntando que história era aquela, de eu falar que eu o vi ficando com uma menina.
-- Eu vi. Isso é tudo o que eu tenho a dizer. -- mantive a postura e a pose o tempo todo.
Ele, desconcertado pela minha firmeza, apelou e me xingou de todos os nomes possíveis, inclusive me ameaçando. Sim, ameaçando. Eu até pensei em começar a gravar a ligação, pois existia essa função no meu celular, mas desisti da ideia.

Voltei para casa mais preocupado ainda, e por acaso encontro Carlos, meu colega de apartamento, na rua, também voltando para casa.
-- Carlos, preciso te contar uma coisa. -- e contei tudo isso aí em cima.
Ele ouviu, impassível. Só lamentou por mim e por Letícia, mais nada. Carlos nunca foi uma pessoa tão preocupada com os outros. Nem sei porque perdi meu tempo falando isso. Acho que foi meu desespero.
Eu estava sem saída.
Alice. Ela é a única pessoa que sabe da história e que me resta agora.
-- Gostaria de falar com Alice, por favor? -- tentei ocultar a voz embargada.
-- Quem gostaria? -- a mãe dela, eu acho, que atendeu.
-- Ah, diga que é o Gringo. Obrigado. -- consegui disfarçar bem.
Ela atendeu.
-- Alice, lembra o que eu te contei ontem? Pois é. A história ficou mais cabeluda ainda.
-- Gringo, você está chorando? -- não consegui disfarçar a voz por muito tempo.
-- Sim, desculpa...  -- e contei o restante, inclusive do beijo roubado, que ela não sabia. -- Eu não fiz isso porque eu queria separá-los, mas olha a minha situação agora: ela vai continuar a ser namorado daquele hipócrita, e eu vou ficar como o fofoqueiro da história, talvez perdendo a pouca amizade que eu tenho com a Letícia!
-- Gringo, calma!
-- Ele me ameaçou, Alice! A-me-a-çou! Tem noção do que é isso? Como você quer que eu me acalme? Ele só se acusa mais e mais, pelas atitudes dele! Sabe... eu não conseguiria fazer um tipo de coisa dessa... se é para namorar, que seja coisa séria, não... isso! --  eu disse, com asco nessa última palavra.
[...]
-- Gringo, é sério... descansa, você está com a cabeça quente, ainda vai fazer bobeira.
-- É, eu preciso mesmo... fui o último a ir embora ontem, tive aula o dia inteiro... enfim, desculpa por te fazer de ouvido pros meus desabafos.
-- Imagina, Gringo, precisando, só me ligar. Você tem meus números...

No final das contas, Letícia me agradeceu por eu ter contado, mesmo que indiretamente, a ela toda essa história, já que isso quis dizer que ela pode confiar em mim. Nossa amizade continuou a mesma, e o Flávio bem que tenta ser gentil comigo agora, mas eu só mantenho a frieza, entretanto sem desrespeitá-lo.

Brigas superadas, amizades mantidas. Não é isso que eu quis ressaltar aqui.
Eu não fiz isso com second intentions; mas, depois disso, sem querer, Alice me conheceu muito mais que Clara, Fabiane, Amanda, Lígia. Talvez menos que Fernanda ou Ana, mas isso não tira o mérito do raciocínio que quero fazer aqui. She sees my true colours, diria Phil Collins no meu lugar.


Eu continuarei a mostrar minhas true colours: eu não estou indo ao teatro dela só por ir. Eu gosto de teatro, acho incrível como os atores conseguem "se tornar" outra pessoa.
Eu gosto de cozinhar e de escrever também. Por causa disso, resolvi postar o "Comidas e Pegadas" no meu perfil do orkut, juntamente com uma letra de música irreverente -- mistura inglês e francês, minhas línguas estrangeiras, e ainda fala de amor. Eu estou querendo mostrar minhas true coloursWill she admire them?

Maintenant tu me connais plus que beaucoup de personnes. Si tu veux me connaître um peu plus, moi je vois seulement une manière pour satisfaire ta volonté...

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