quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Carpe diem e auto-destruição

Hoje, começou uma das maiores festas universitárias do Brasil, que é sediada aqui na cidade onde eu estudo. Na verdade, é um torneio esportivo, mas disso pouca gente se lembra.
Que raios você está fazendo aí, escrevendo nesse blog maldito, então? Vá lá curtir! Não vou por várias razões. Primeira, tenho que apresentar um seminário amanhã. Segundo, tenho um curso nesse sábado e domingo. Terceiro, que das últimas vezes em que fui, em uma delas eu corri risco de morte, e na outra eu não consegui aproveitar por causa de Clara.
Bom, vamos contar cada história de uma vez, né?
A abertura desse torneio é um trio elétrico que sai da porta de uma das universidades daqui e vai até algum ponto da cidade, pré-estabelecido pelas Atléticas. Há muito tempo, esse trio entrava na minha universidade, mas devido aos atos de vandalismo, a Prefeitura Universitária proibiu por tempo indeterminado a realização dessa festa lá.
A primeira vez que eu fui foi em 2007, no meu segundo ano de faculdade. Eu só passei perrengue nesse dia: servi de base pra um "boneco de Olinda", quase morri pisoteado por má organização da festa, entrei sem convite por causa disso (se eu fosse querer ser honesto, eu não estaria aqui escrevendo, e sim sete palmos debaixo da terra), tive que sair correndo desesperadamente por causa de uma briga que começou do meu lado, era fácil arranjar qualquer tipo de droga (era só fechar os olhos e respirar um pouco mais fundo para fumar maconha "por tabela", por exemplo), dentre outras coisas.
Minha segunda vez foi uma auto-análise. Era muito no começo da história da Clara. Eu já tinha me declarado pra ela, mas ainda restava aquele mínimo de sentimentozinho mixuruca por ela, e daí eu pensei que... enfim, toda vez que um cara chegava nela e eu estivesse perto, ela me olhava de um jeito estranho e dispensava o cara. Não sei até hoje o que significou esse olhar estranho de Clara, e vou morrer sem saber.


Enfim, eu tô aqui pra falar de outra coisa: sobre levar a sério demais essa coisa de carpe diem.
Bom, conforme eu disse, é muito fácil conseguir drogas nessa festa, inclusive drogas "pesadas". Fácil também é ver que algumas pessoas (conforme a gente fala aqui), "queimam a largada" - nem ao menos conseguem chegar no final, de tão bêbadas/drogadas/sei-lá-o-que-mais.
Incrível como existe uma forma de ditadura da felicidade na vida unversitária: beber todas, usar/fumar/cheirar todas, "pegar" todas, colar de todos os nerds babacas e conseguir a mesma coisa que eles no final do curso. Aí sim fala-se em ter aproveitado minha faculdade. Infelizmente eu tenho que afirmar que Carlos*, meu colega de apartamento, é assim: eu sei que ele não gosta do tipo de música que toca nessa festa - pra não falar que ele prefere que deem um tiro na cabeça dele a ele ter que ouvir axé, sertanejo e funk durante uma festa inteira. E mesmo assim, ele quase arranjou uma briga com a namorada dele para ir. Ela, submissa, deixando que seu amor por ele falasse mais que o amor dela por ela mesma, deixou; e ainda por cima não foi, para evitar mais brigas no dia da festa.
Há pessoas que "não sabem brincar". Tudo tem que ser da forma mais intensa possível: prazeres, histórias, afetos. Pena é que nem todas essas sabem direcionar essa "ânsia" de forma saudável. É por isso que eu estou em casa. Não sei brincar de carpe diem como a maioria dos universitários.






*** Só alguns fatos sobre essa festa:
1) Eu acho que ela só não foi proibida ainda (ou seja, a prefeitura da cidade ainda solta alvará para que ela aconteça, apesar da reclamação dos moradores) porque ela movimenta horrores na economia da cidade: compras em supermercados por bebidas e afins, hoteis, restaurantes, transporte, etc. Existe toda uma movimentação "turística" por essa festa.
2) Na semana seguinte, os pedidos para exames de HIV aumentam significativamente nos postos de saúde da cidade.
3) Ou a transmissão dessa reportagem realmente quis ocultar os fatos ou o horário não permitiu que eles fossem mostrados. Alguém pode falar para o(a) repórter que não existe Engenharia de Ondas, tampouco uma Unesp em Mongaguá (0:35)? Deu pra ver o nível etanólico da pessoa, também, né?
4) No outro dia, soube de vários acidentes: uma pessoa caiu no rio em cuja margem o "Corso" passou, outro machucou muito sério o joelho por causa de uma bobeira, etc.
5) Efeitos pós-Tusca comuns são uma rouquidão forte e um cansaço tão grande que chega a irradiar. Não precisei ir muito longe para saber desses efeitos...

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