sábado, 12 de setembro de 2009

A(hu)mor próprio

Fui ao teatro ontem. A peça foi baseada em um personagem de um livro que ganhei de presente por acaso em um "amigo secreto": um psicanalista nada ortodoxo, cuja recepcionista também não é. Talvez seja daí que tenha vindo meu preconceito com a situação do paciente que se submete à psicanálise.
- Nossa, tão jovem e já fazendo terapia? - perguntou uma mulher com um vestido que poderia ter saído de uma novela de época. Loira, olhos azuis, boca com um batom daquele tom vermelho exato entre a sutileza e a sensualidade.
Eu ri da surpresa: os próprios atores estavam recolhendo os ingressos à entrada do teatro, como se ela fosse a recepcionista do analista e os espectadores, os analisados. Ri também da coincidência da situação - eu não poderia estar fazendo terapia por ser jovem?
- Boa terapia! - desejou a atriz.
O tipo de humor da peça foi cliché: uma sessão de piadas dos tipos mais consagrados nas piadas de boteco. Português, loira, bicha, casamento tedioso, etc. A tentativa de refinar o humor foi umas pitadas de conhecimentos globorreportenses sobre o funcionamento do cérebro na situação do humor. Ou seja, um blablablá que qualquer pessoa que pudesse ter acesso um pouco mais de informação saberia procurar e achar.
'tá, eu gostei da peça, ri bastante, mesmo que algumas das piadas dele serem antigas até para mim, que nem sou tão bom piadista.
Ri inclusive de mim mesmo, pois um dos personagens era um homem de 25 anos que ainda era virgem e homossexual não-assumido. Não, não sou homossexual, mas o fato é que a virgindade masculina hoje é tão tabu quanto a feminina no passado. Não é? Ora, ora... se isso não fosse tabu, eu não estaria aqui, escrevendo!
A outra personagem - a do vestido de época, que recolheu meu ingresso - supreendeu a todos quando quando atacou de mulher sedutora. Outro momento em que ri de mim mesmo - como é fácil prender a atenção de um homem, intensamente estimulado pela visão de um belo par de peitos em uma lingerie preta bordada, só mostrada depois de tirada uma camisola vermelha fatal.
Foi esse o principal motivo de eu ter gostado da peça: fazer com que eu ria de mim mesmo. Rir de si mesmo é um humor crítico, uma forma de reconhecer falhas sem que se sinta mal por isso - pelo contrário.
Eu, um romântico enrustido (acabei de criar esse nome ou ele já existia?). 'tá aí, descobri duas palavras que me definem...
Imagine-se com "aquela pessoa", com essa música de fundo, uma noite de chuva fina, a luz amarelada de uma vela...

Pronto, fiz minha única sessão de terapia. E descobri o que sou de verdade. Agora, só falta que "ela" (quem?) descubra quem sou.

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