sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Predestinação


Eu não sei porque eu ainda alimento esperança: sempre que eu to me sentindo bem "demais", como nesse dia, vai existir alguma coisa para me fazer sentir muito, mas MUITO mal.
Como hoje.
Não, não estou com ressaca da festa de ontem. Pelo menos não alcoólica -- eu não consegui levantar da cama hoje de tanta dor nas costas e nas pernas. Adoro quando as pessoas me desapontam, sabe? Adoro quando as pessoas têm tanto bom-senso que se oferecem para ajudar ao perceberem que eu e mais quatro pessoas estávamos há QUINZE HORAS trabalhando na festa, abaixando até o chão a caixa térmica para pegar as bebidas. Literalmente, eu dei meu sangue por aquela festa -- estou com um corte na mão esquerda, feito pela lataria da caixa térmica.
Comentei com uma dessas pessoas, que também estava havia essas quinze horas, que minha vontade era de pegar um mísero palito de fósforo aceso daqueles maconheiros filhos da puta, que não deixavam a gente ir embora, porque queriam ficar mais na festa que já tinha acabado, e fazer um lança-chamas bem no meio do cu deles com um desodorante de aerossol que estava na minha bolsa.
Dor física? O quê? Isso existe? Perto disso, não é nada (suponho que comentários são dispensáveis: trabalhando por quinze horas, quando é que eu tive tempo?)


Ah, eu contei a última? Então. Foi assim: eu estou fazendo uma disciplina sexta-feira de manhã (sim, estou matando aula agora), e essa mesma disciplina é oferecida na segunda-feira à tarde. A primeira prova dessa disciplina aconteceu para a minha turma antes do que da turma de segunda. Daí, alguém da minha turma teve a brilhante ideia de copiar e mandar para o e-group de todos os alunos do meu ano a prova para que as pessoas da turma de segunda se guiassem para "estudar" (haja aspas: estudar para uma prova um final de semana antes? Convenhamos...). Carlos é da turma de segunda, e alguns dos amigos deles, que vieram estudar aqui em casa, também. Como eu havia feito a prova, eu falei para eles como eu fiz. Daí, foi minha vez de ter a brilhante ideia de mandar minha resolução da prova.
Fui retaliado.
Sim, de fato, eu reconheço que minha resolução já não estava perfeita, aliás, quem sou eu para isso? Mas para as pessoas escreverem OITO mensagens do tipo "é, o Gringo errou isso", ou "a resolução do Gringo está errada"? Façavor... Detalhe: dessas oito mensagens, sete eram de pessoas que já tinham feito a prova, portanto não precisariam estar estudando essa disciplina naquele final de semana. Ou seja, foi  só para mostrar "olha só como sou mais inteligente que o Gringo".


E qual é a utilidade da prestatividade? Acho que deve servir só para percebemos que nunca satisfazemos ninguém. Paciência tem limite.
Estou procurando estágio, e as empresas de RH fazem o favor de sempre dizerem "Vocês receberão resposta, positiva ou negativa". Algumas esperas vão fazer aniversário, se continuar nesse ritmo. Exemplos: uma empresa em Campinas não me responde faz um mês e meio; outra em São Paulo, dois meses. Uma aqui perto disse que até dia 23 deste mês me daria resposta (detalhe: amanhã é Halloween). Outra falou que "na semana que vem" (que seria há quinze dias) responderia.
Sim, eu acho que vou virar um estagnário no ano que vem.


É isso, eu estou predestinado. Predestinado a não ser reconhecido, de todas as formas possíveis: pelo empenho, exemplificado no tempo trabalhando na festa; pelo altruísmo, na resolução da prova; pelas minhas competências, nos processos seletivos de estágio.
O tiro de misericórdia é o meu reconhecimento como homem, que também dispensa comentários.


Ainda bem que pelo menos como filho ou como amigo de uns bem poucos eu sou reconhecido. Eu vivo bem, tenho dignidade. Eu ainda tenho que ser grato por isso.

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Who, who am I to be blue?
Look at my family and fortune
Look at my friends and my house
Who, who am I to feel dead?
And who am I to feel spent?
Look at my health amd my money
And where, where do I go to feel good?
Why do I still look outside me
When clearly I've seen it won't work?
Is it my calling to keep on when I'm unable?
Is it my job to be selfless extraordinaire?
And my generosity has me disabled by this:
My sense of duty to offer.
And why, why do I feel so ungrateful?
Me who is far beyond survival
Me who sees life as an oyster
And how, how do I rest on my laurels?
How dare I ignore an outstreched hand?
How dare I ignore a third-world country?

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