segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Minha primeira loucura [1]

Acordei às oito e meia sendo que cheguei em casa às quatro e meia. Loucura? Bem possivelmente. Ainda estou enxergando meio embaçado, sem os óculos e com a cara amassada do travesseiro. Estou agora incrível e completamente sem sono. Feeling the butterflies in the stomach, y’know... Calma, que eu já explico o porquê. Aliás, nem tão "já" assim.


Conversei com Alice para combinarmos um horário para irmos. Acabei por conseguir uma carona dela.
Antes de irmos ao baile, tive uma conversa muito agradável e motivadora com a Fer*, minha eterna amiga e eu, seu eterno confessor. Relembramos histórias do passado, recebi elogios inesperados. Mais lighthearted que ontem, só se...
Alice me ligou falando que atrasaria um pouco. Já esperava por isso. Mulheres... Adoram nos deixar na expectativa! Meia noite e meia eu tô saindo de casa. Tudo bem, sem problemas.
Atraso de mais de vinte minutos depois da meia-noite e meia. Liguei. Fiquei preocupado, achei que poderia ter acontecido alguma coisa. Ah, não, foi só que eu dormi demais, desculpa. Já já eu passo aí.
Eu redefini minha concepção de breathtaking quando entrei no carro. Dissimulei meu encantamento; afinal, não éramos só nós no carro. Inclusive, o irmão dela dirigia. Pois é, eu acho que talvez não fosse cair muito bem.
Não era exatamente um vestido, mas uma peça única preta acetinada que consistia de um short e uma blusa com um decote vertiginoso e alucinante, as costas também abertas mostrando um soutien com strass. Brincos simples, mas o brilho deles só não se comparava ao dos olhos nigérrimos logo ao lado deles. A única maquiagem em seu rosto era um batom, que, aliás, nem parecia estar lá. Um rabo-de-cavalo bem simples emoldurava-a o rosto. Suas pernas brancas até reluziam na escuridão do carro, e insistiam em me tragar os olhos e em lhe preocupar as mãos para não mostrar partes indevidamente.
Fiz muito esforço, maior que o costumeiro, para olhá-la nos olhos somente [piada interna!]. Era inevitável. Perdoe-me, leitor; mas sou homem, after all.

Não encontramos os nossos colegas da comissão de formatura à primeira instância.
– Ah, olha só, não é a Jaque* ali? Só um minutinho, Alice.
Jaqueline*, minha veterana, estava com alguns amigos, aos quais fui apresentado.
Ela me cochichou, e apontou para Alice, disfarçadamente. Ela me olhava um pouco espantada, não sei.
– Namorada?
– Não, não – eu respondi, encabulado, com um sorriso amarelo. Bem que eu queria que fosse...

Vamos comer alguma coisa? Estou com um pouco de fome, Alice disse. Sim, daí enquanto a gente anda pelas mesas, a gente talvez encontre a Gabi.
Gabriela* era a outra pessoa da comissão de formatura que estava no baile, mais seu namorado.
– Engraçado, a Jaque me perguntou se eu era seu namorado!
Rimos sincronizados. Aqueles cílios se fechando, olhos curvados em um sorriso...


Aprecie a letra dessa música, principalmente! Super propícia...

Minha técnica para encontrar a Gabi não deu certo ainda bem. Mas ela acabou por nos abordar na nossa mesa de jantar.
Escutei por tabela uma conversa:
– Ai Gabi, ontem, que nem estava tão cheio assim, eu vim toda produzida! Hoje... ah, olha esse brinco, super simples! Nem lavei meu cabelo de ontem pra hoje, de preguiça; daí eu só fiz esse rabo.
– Alice, eu já até te falei isso: quem é linda "ao natural" nem precisa se produzir que fica linda! Não é verdade, Gringo?
– Verdade – e a olhei profundamente.
Discutimos depois sobre a nossa formatura, em relação à que estávamos. Alice estava um pouco blasée quanto a isso, não só por estar cansada, mas também por não estar gostando de uns detalhes naquele baile.
– Ah, Alice, não se preocupe... vai dar tudo certo na nossa formatura! – peguei em seu ombro, de um jeito que transmitisse segurança.

Havia outras comissões presentes, inclusive eu me abalei quando encontrei Clara lá (pois é, a própria!). Foi uma sensação um tanto inusitada para mim. Nunca tive uma ex, mas eu senti como se ela fosse uma. E como parecia que eu estava acompanhado por Alice, conforme a Jaque até me perguntou, foi uma sensação mais estranha ainda.
Tinha também outro cara de outra comissão de formatura. Daqueles que são o engraçado-malandróvski da turma, sabe? Daqueles que se esquecem de que estão arruinando a noite de outrem, por causa de sua... expansividade, digamos. Enfim, ele me fez a mesma pergunta da Jaque. Minha resposta foi a mesma, um "não" meio encabulado.
– Alice, de novo, acredita? Outra pessoa – e apontei para ele, disfarçadamente – me perguntou se a gente é namorado!
Desse jeito eu vou é querer que sejamos!
A mesma risada, os mesmos olhos... ai! Você me enloquece, você bem que merece.

Não, não ficamos. Sim, eu o enrolei até aqui, leitor, para fazê-lo perder seu precioso tempo.
Mesmo assim, não fiquei triste por mim. Porque todas as vezes que nós cruzávamos olhares, eu sentia que havia um quê de reciprocidade, é certo.
Chegando em casa, enquanto me preparava para dormir, o espelho me mostrava uma pessoa confiante. Aquele rosto que estava sendo limpo do corretivo facial se indagava "Por quê, então?".
Quiçá Gabi e Alice tenham combinado aquela conversa.
Quiçá ela também queira.

Tive um sonho. Nesse sonho, eu era plateia de uma palestra em que a palestrante estava muito nervosa. E ela começava a falar de si mesma de uma maneira que mexeu comigo. Humildade e simplicidade comoventes. Arrancou aplausos fervorosos da plateia, meus inclusive.
Por que será que a maneira tão simples dessa apresentadora foi tão emocionante? Humildade também impressiona. Aliás, muito mais que um exibicionismo prepotente. Logo associei a minha simplicidade à apreciação dos outros, conforme a Fer mesmo me disse antes de eu ir à formatura.

Uma loucura. Uma pesquisa rápida em dois sites, e eu faço a minha primeira loucura. Borboletas no estômago!
A primeira pesquisa foi associar um número de telefone fixo a um endereço. Um pouco difícil, mas consegui – ainda bem que eu sei o sobrenome de Alice!
Sim, tire suas conclusões.

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