terça-feira, 12 de junho de 2012

Assassino

Comecei a fazer psicoterapia. Não sei se é a etapa em que "estamos" ainda, mas sinceramente, eu ainda prefiro esse meu canto aqui. Sim, sim, eu entendo, a ideia é a mesma: ter um canto na minha agenda pra falar sem medo de ser julgado, sem medo da opinião dos outros.

Se eu tenho total confiança nisso? Não ainda. Por exemplo, ainda fico constrangido quando há silêncio. Incomoda, igual ao silêncio no elevador. Daí eu solto qualquer coisa aleatória que está na cabeça. Aqui eu tenho toda uma edição de texto por trás, toda uma necessidade de coerência textual, que acaba me ajudando mais que essa conversa que, no fundo, acaba sendo um pouquinho forçada.

E inevitavelmente falo das pessoas ao meu redor. Falo do que acontece na minha família, falo de histórias que acontecem durante a semana, nos finais de semana...

Aliás, meus finais de semana tem sido meio agitados lately.

Primeiro deles foi para comemorar minha defesa. Por uma quantidade enorme de fatores, quais sejam: amizade, cumplicidade, respeito... convidei a Diana. Vários motivos, sim; exceto um: meramente obrigação.

Sim, ela já voltou do doutorado-sanduíche (meio curto, aliás).

Aliás, deixa eu contar outra antes dessa história da minha defesa.

Logo que ela voltou, era perto do meu aniversário. Estávamos no departamento, cada um no seu laboratório, quando ela me chamou no chat.

"Trouxe um presente pra você."
"Presente?"
"É, seu aniversário."
"Imagina, não precisava ter se preocupado! Está aí com você?".
"Não, não, está em casa".

Abriu-se-me um buraco no peito. Mesmo que tenhamos conversado, ela está jogando sujo. Sei que ela ainda mexe comigo, mas eu preciso ser forte. Ela chama, eu vou. Ela esperneia, eu consolo. Ela joga baixo e eu... aceito?

E eu, eu fico onde?

Não poderia recusar o presente sem nem ao menos saber do que se trata. E é justamente por ela saber disso [que eu penso demais em não ofender as pessoas] é que ela joga sujo!

"Err... quando posso ir buscar?". Combinamos um horário e fui.

A casa dela é uma kitchenette, na verdade. Não tem sala, e o único lugar para sentar que não fosse a mesa da cozinha era a cama ou a mesa do computador, impedida pela cama. Ou seja, mais um golpe baixo, dessa vez fengshuístico. Percebendo meu embaraço, ela pegou a cadeira do computador e se sentou na cama, do lado da cadeira.

Como foi lá? Passou muito frio? Nossa, muito, tinha dias que quase não dava pra sair de casa. Como é lá? As pessoas, os lugares? O povo é meio esquisito, meio "sem-educação", atendem meio esquisito. Blablablá.

Eis o presente: uma carteira de couro da Calvin Klein (!!), um chaveiro com gravações do Coliseu e da a Basílica de São Pedro, no Vaticano (sim, ela viajou para a Itália também, pelo jeito); e uma barra de chocolate importado. Encabulado, não poderia deixar de reconhecer que ela fez um esforço - financeiro, inclusive - com os presentes. No plural.

"Estava com saudades."

Pronto, era isso que ela veio me falar. Estava com saudades, tira essa bermuda que eu quero você sério. Mas já estamos conversados, por favor, não se machuque desse jeito...

Depois de alguma conversa e esquivadas de beijos e abraços meio pra-frente, eu disse que precisava ir, pois tinha que acordar cedo no outro dia.

Sei que você não esperava isso de mim, mas achei que estávamos conversados.
Não, imagina! Não esperava nada.


Aham, e eu nasci ontem. Fui embora, sabendo que poderia ter largado alguém dando socos num travesseiro.

Nunca a letra da música "Unfaithful", da Rihanna fez tanto sentido pra mim como na hora em que manobrei o carro para voltar pra casa. Não quero fazer isso mais, não quero ser o motivo! Toda vez que eu passo na porta dela, eu a vejo morrendo um pouco por dentro. Eu não a quero machucar mais, eu não quero tirar a vida dela. Eu não quero ser um assassino.

Sim, eu sei da minha capacidade de fugir do assunto. Vou tentar falar da psicoterapia depois.

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