sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Compreensão

Eu sei que eu não precisava ter me antecipado e tirar dinheiro da minha própria poupança pra pagar a inscrição absurdamente cara de um congresso, mas fiz só pra segurar preço - além de ser absurdamente cara, o preço vai subindo à medida que a data do congresso chega. Sim, tirei dinheiro da minha poupança, mesmo sabendo que o Programa de Pós-graduação reembolsaria.
Com essa brincadeira, cinquenta reais de dinheiro público deixaram de ser gastos. Tá, eu vou sair perdendo um pouquinho de dinheiro (os juros da aplicação da poupança), mas não é nada.
Problema maior nem foi ficar sem quinhentas dilmas (!) temporariamente, e sim escutar isso:
- Sinceramente, cê foi muito burro! - disse uma colega de lab. - O Programa vai pagar mesmo, segurar preço pra quê?

Sim, eu fui muito burro. Por que motivo eu vou querer economizar fazendo inscrição antecipada, não é mesmo? Não preciso economizar dinheiro público, ainda mais só R$ 50; afinal, a corrupção tá aí correndo solta, vamos entrar na dança.

Não que eu tenha pensado nisso, mas façamos as contas: vamos supor que todas as áreas de pesquisa mandem um total de 40 pós-graduandos para o congresso (número razoável/chutado baixo, já que só minha área de pesquisa vai mandar dez). Se todos tivessem feito isso, seriam R$ 50 por pessoa x 40 pessoas = R$ 2000, mais do que uma bolsa de doutorado. Levando em conta que ano passado, o Programa passou por dificuldades financeiras para trazerem membros de bancas de defesa de mestrado e doutorado ano passado, o que é uma necessidade básica para o Programa, isso ajudaria um pouco.
É difícil, reconheço, ter os R$ 500 guardados - só tenho porque ainda sou nenenzinho da mamãe. Também não fiz pra ficar provando que tenho uma poupança gordinha. 
Eu faço uma boa ação, sou chamado de burro. Tá bom, então.

Daí, de novo, acontece uma situação muito parecida na mesma semana. Tem uma outra colega de lab, que é tão tímida que chega a ser uma pessoa extremamente bloqueada. Tão bloqueada que é chamada de "Mudinha" pelas outras pessoas do meu lab. Vou poupar um pseudônimo e manter o apelido, mas não que eu concorde com o apelido.
Eu já a conhecida da época da graduação, pois fiz algumas disciplinas com ela. E realmente não gosto nem um pouco desse tipo de atitude, pois me remete muito à minha fat époque. Deve ser por isso que eu a entendo: é igualzinho.
Inclusive a reação dela. Explico daqui a pouco.

Outro dia, estávamos comentando justamente sobre a "Mudinha":
- Juro que tento - eu disse -: perguntei se ela não queria vir tomar um café com a gente, já chamei pra almoçar; enfim, eu faço o esforço...
- Por isso mesmo que eu nem faço o esforço - interrompeu a mesma colega de lab que, mais recentemente, me chamou de burro - Cê tá é perdendo o seu tempo.


E por um infeliz de um acaso eu tuíto sobre isso, repetindo a frase da minha colega de lab:

"Por isso é que eu nem faço o esforço", disse uma pessoa do meu lab sobre outra, que não enturma, mesmo eu tentando. Isso me fez pensar.


Isso me fez pensar no que chamam de ser sociável: é chutar todos os que você não tolera pra longe, é ficar colocando apelidos de mau gosto neles e ficar falando mal pelas costas? Perto de mim, só as pessoas "legais".
Legal, hein.

Daí ela me vem toda truculenta (assim como eu era, na fat époque) no chat do Facebook (sic): 
  • eu vi seu twitter, e vi o q vc escreveu ontem...
  • sei q era sobre mim...
  • respeito o q vc e o pessoal do lab acha de mim...
  • mas eu sou uma pessoa muito tímida mesmo, sempre fui, e esse é meu jeito
    então, só queria t falar que não vou com vcs pro congresso, nem precisa ver lugar pra mim junto..
    eu só fiquei chateada com o q eu li entende...mas respeito o q vcs acham, d vdd, só acho q não vai ter clima pra ficar no quarto com alguem q possivelmente está falando de mim sem nem me conhecer...

    Expliquei que eu estava chateado justamente por ouvir esse tipo de comentário, e que por isso que me fez pensar, e tal. Disse também que eu tento enturmá-la, mas ela fica meio que fugindo da gente.

    Primeiramente, não tenho nem ideia de como ela viu meu tweet, porque ela não me segue. Só se ela for um desses perfis esquisitos que me seguem e que eu não bloqueei ou se ela própria me bloqueou. Sei lá, não sei o que acontece. Prefiro não pensar nas outras possibilidades, senão eu perco o fio da meada do que eu quero escrever.

    De qualquer forma, hoje eu me motivei pra escrever pra falar dessa compreensão: o Programa vai sentir falta dos R$ 50 que não economizariam se eu não tivesse me antecipado? A Mudinha merece um pouco de atenção? A Diana merece uma segunda chance?
    Enfim, tudo se resume a: eu preciso me sacrificar pelos outros? Eu devo alimentar esperança a todas as pessoas?
    Já passei por tantas outras situações que recaem nos mesmos questionamentos, nas mesmas reflexões! Inclusive escrevi sobre isso faz um tempão, com um tantão mais de mimimi.

    Mas a pergunta continua.

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