quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Redenção

No fundo, eu percebi que eu realmente nunca amei de verdade a ninguém. E sim, a Diana já jogou isso na minha cara. E sim, assumo. Duh! Ela sabe que eu nunca amei-amei. Afinal, ela foi minha primeira.

Não só acato essa prerrogativa, mas também extrapolo: eu nunca senti que amo nem ao menos minha família. Por exemplo, eu não telefono pra casa, apesar de agora eu ter um plano de celular com DDD ilimitado. Só recebo ligação de lá. Oi, tudo bem? E aí, como 'tão as coisas? [sempre duas vezes a "mesma pergunta"]. E o doutorado? Tá fazendo frio aí? Ah, preciso ir porque [insira alguma responsabilidade banal com a Manuela, minha sobrinha]. Tchau, Deus te abençoe.

Aconteceram reviravoltas na vida dos meus colegas de laboratório. Um deles está com defesa marcada para daqui uma semana, e até há algum tempo atrás, estava sem emprego/pós-doc no prelo. Daí, eu soube que ele passou num concurso para professor substituto em primeiro lugar aqui mesmo no departamento. Respondi num "Ah, passou? Legal, parabéns.". É, desse jeito assim: sem ponto de exclamação, sem cumprimento. Completamente blasé. Como se a notícia fosse uma casualidade.

Não entendo como que, ao mesmo tempo, eu sou tão compreensivo com outras coisas. Eu tento entender demais o pensamento das pessoas, porque ela poderia ter tal opinião, levando em conta a situação dela blablablá. Minha vida inteira está repleta desses exemplos. Já contei um deles aqui, acolá e em tantos outros lás. Mais um, então:

Fui a Campos do Jordão em um passeio para fazer trilhas de mountain bike, há pouco menos de um mês.  Iniciante-mas-nem-tanto como sou, fiquei num meio-termo terrível: estava com vontade de tentar alcançar o grupo da frente, mas não queria largar uma completamente iniciante pra trás. Ela estava super chateada com a organização do passeio: deveriam ter pensado nessa situação, já que a organização sabia que ela nunca tinha pedalado ever; quanto mais num terreno difícil como o de lá, mesmo para ciclistas treinados. O que eu fiz? Fingi que estava tão cansado física e psicologicamente (afinal é uma pressão terrível ver que tentar alcançar o grupo é impossível, porque nosso corpo já está no limite) e a acompanhei até o final do passeio, no ritmo dela.

Não vou mentir que eu não estava cansado, mas eu sentia que eu poderia dar um pouco mais de mim. Ao mesmo tempo, sentia que eu jamais alcançaria o pelotão da frente. Meu corpo já estava dando sinais de fadiga extrema. Entrei na mente dela, e compreendi o que é a pressão pelo resultado ir de encontro ao limite do factível.

Com a Diana, então, nem se fala. Fico péssimo a cada mensagem que recebo, a cada vez que eu a vejo no corredor e vejo sua expressão abatida. Eu entendo que ela não entende o porquê dessa nossa separação. Ela não consegue associar as coisas.

Daí eu volto no que eu comecei: o que eu estava esperando disso, um amor de cinema - tudo é lindo, todo mundo é feliz? E aquele contato bobo de todo dia? "Aquela louca da minha orientadora não sabe o que quer da vida!", que logo vira "que medo desse 'preciso falar com você' do meu orientador"? Que logo é seguido de um "fiz aquela receita de bolo de banana com chocolate hoje, quer um pedaço?", permeado por um "gostei muito do passeio lá em Campos do Jordão, apesar de tudo" entre uma bocada e outra? Enfim, a função fática do relacionamento, fica onde?

Eu acho que falhei com ela porque eu sinto que não valorizei esses pequenos momentos porque queria uma paixão breath-taking no lugar.

Eu sei que ela me perdoaria por isso. Tanto é verdade que ainda tenta manter contato. Mas e eu? Eu me perdoo?

Daí eu entro no tal loop infinito sobre o qual já escrevi.

A saída é aparentemente simples: baixar a guarda, rir de mim mesmo, trollar na medida do tolerável. Dar-me a oportunidade de redenção, enfim. Porém, quando eu tento colocar na prática, fica tão forçado!, ou ninguém entende o sarcasmo; o que é pior, por soar meio grosseiro.

Vou tentar.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

A tal da felicidade alheia

É lógico que eu sei que ela não está feliz com isso. Nem eu estou. Porém, eu o tempo todo ficava cedendo às reações dela, e acabava machucando nós dois. Desde muito tempo eu tenho pensado nisso e escrito muito sobre isso. Mesmo se eu não estivesse seguro quanto à minha decisão, vale a pena fazer com que ela viva nessa insegurança, tolerando essa falta de constância que está sendo minha cabeça ultimamente?
Já falei pra ela mais de uma vez que a gente sente carência demais, e por isso a gente se apoiou demais um no outro. Isso não estava sendo bom pra nenhum dos dois.

Percebi que nós dois somos extremamente tímidos (ou seja, temos medo demais da opinião alheia) a ponto de sermos muito inseguros. No fundo, acho que é isso que ainda nos mantém ligados, mesmo agora: temos a timidez em comum.

Sei que é pretensão demais da minha parte me orgulhar disto, mas enfim: imagina se não fosse comigo, também extremamente tímido! Outro cara não estaria nem aí, mas continuaria "cedendo" (de mentirinha, o que seria um abuso enorme) e ela afundaria cada vez mais no próprio "medo". Eu percebi que estive fazendo isso com ela sem querer, e tive medo do que ela poderia pensar, ou seja, fui tímido. E estava me sentindo super mal, me cobrando o tempo todo uma resposta pra dar pra ela, independentemente de ela me dar prazo (pois é, não escrevi sobre isso, mas aconteceu).

E nessa cobrança eterna de mim mesmo, surtei. Surtei porque eu também não tenho ninguém além dos meus próprios textos ou dela mesma pra por pra fora. Surtei em saber que eu "queimaria" todas as minhas possibilidades de "pessoas com quem contar" se eu te dissesse "não". Mas sabia que não estava certo em "empurrar com a barriga" sabendo desse mal que é a nossa timidez extrema.

Lendo os grifos, concluí: eu estava me sentindo responsável pela felicidade dela. Não só isso, mas ELA estava me jogando essa responsabilidade. Mas já é tão difícil ser responsável pela própria!

Ou seja, conforme eu já falei há muito tempo, ela é boazinha.

Acho que depois de conseguir organizar tudo isso pelo menos na minha cabeça [escrever ajudou bastante, aliás], eu posso responder: sim, estou seguro de que foi a melhor decisão que eu poderia tomar. Fiz o que fiz justamente porque eu não quero que nenhum de nós dois vivamos com essa timidez extrema, com essa ansiedade de pensar que a felicidade do outro depende da gente. É melhor pra nós. Se ficássemos juntos, nunca seríamos nós mesmos e viveríamos nos moldando só pra agradar o outro. Ficaríamos o tempo todo ansiosos, nos sentindo responsáveis pela felicidade do outro.

E sendo infelizes.

E não há maneira simples de falar isso. Eu sei que ela não vai me escutar. Se ela prefere virar a cara pra mim, não posso fazer nada. Agora que está tudo escrito e organizado, juro que pensei em mandar pra ela, porque eu sei que ela está infeliz com isso. Rancorosa. Deve estar fazendo minha caveira pras amigas, porque nem elas estão me cumprimentando no corredor mais. Minha mãe deve estar sendo "homenageada" todo dia.

Não vou mentir que "saí por cima da carne seca". Chorei demais, mas não por sentir esse relacionamento acabando; e sim por saber que ela estava numa fossa desgraçada. E que eu sou o culpado.

Mas não dá pra eu ficar triste por causa dela. Não sou responsável pela felicidade dela.

domingo, 24 de junho de 2012

Loop infinito

Deixa eu começar a pagar minhas promessas bestas que fiz nas últimas semanas. Primeiro, prometi que ia contar sobre a psicoterapia.

Comecei a fazer, sem grandes esperanças. Afinal, coisa que eu mais faço aqui é me analisar, qual é a diferença? Enfim, a cada sessão, eu saio mais acabado que antes. Por ficar mexendo merda que tava seca num canto, acabo fazendo meus problemas federem cada vez mais.

Sim, eu sei que eu sou uma pessoa que tem um medo enorme da opinião que as outras pessoas podem ter de mim. Que eu penso demais e ajo de menos. Que eu cedo demais. Que eu reprimo muito minhas vontades só por conta desse medo da opinião alheia. Tô cansado de saber que tudo o que me angustia se resume a um só problema: eu me cobro demais.

Cobro de mim mesmo uma excelência em tudo. Por exemplo, não consigo admitir que eu esteja em forma, e vou a nutricionista e me submeto a restrições alimentares dificílimas. Sacrifico meu tempo livre na cozinha só pra não sair da dieta; já que, quando saio, eu tenho mais uma crise de prisão de ventre, minha parça de muitos anos. Mas até que ponto essa prisão de ventre é somática e não psicológica, ou seja, o que causa essa prisão de ventre é meu intestino preguiçoso por definição ou se trata de uma fixação anal-retentiva, literalmente?

Já estou cansado de saber qual é o meu problema. Não precisava de alguém para me escancarar dessa forma, tampouco pra ficar jogando tudo isso na minha cara, pra eu ficar mais arrasado ainda.

Realmente, eu já esperava que fosse bem angustiante, mas eu não estou vendo progresso nenhum. Ter consciência da causa dos problemas é uma coisa, resolvê-los é outra.

Quero respostas.

E pra piorar, eu tenho sentido que a psicóloga se importa demais com descobrir a origem das coisas. E daí que eu tenha sido bastante excluído na escola da sexta à oitava série? E daí que eu tenha tido muito mais amigas que amigos, não tendo desenvolvido manhood suficiente quanto se espera de um homem feito? Meu passado não vai mudar só porque passei a ter consciência dele.

Não consigo imaginar outra razão para que ela faça isso sem ser para me encaixotar num modelo e me prescrever um tratamento também encaixotado, produzido em série. Fosse fácil assim, eu viveria minha felicidade artificial numa cápsula de Rivotril. Preferiria "fumar um" todo dia que daria na mesma e seria mais barato. Barato, heh.

E por isso mesmo é que eu falei na última vez que eu fui lá que eu não quero mais continuar, porque não estou sentindo progresso nenhum, não estou sentindo resposta. Falei nesses termos. Ela rebateu: "eu não tenho essa resposta, nenhum psicólogo vai ter essa resposta".

Imaginei ela com aquele robe de monge budista, vermelho e amarelo; palma da mão estendida em sinal de paz, dizendo "a resposta está dentro de você" num tom de voz à la Mestre dos Magos.

Puta que pariu! E qual é a função dela, então? Cronometrar meu tempo (e o tempo dela), porque hora de psicanalista tem 45 minutos? Já escrevo sobre tudo o que me angustia faz muito tempo, não preciso de alguém para me ouvir sem me julgar. Já tenho meu canto sem julgamento de ninguém; tão escondido que qualquer busca no Google me acharia.

Ela deixou um contato, caso eu volte atrás na minha decisão. Perda de tempo.

E continuo nesse loop infinito: estou cobrando de mim mesmo que eu preciso parar de me cobrar. Como sair dele? Eu só queria essa resposta, que eu não vou encontrar na psicoterapia. Porque, afinal, a resposta está dentro de mim. Cada uma que eu preciso ouvir...!